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Pastor Abe Huber - O Coração do Bom Pastor

 Todos os Pastores e membros,  deveriam assistir e estudar esta ministração!

A noiva estava linda

Há um ar de desapontamento com a Igreja em nosso país. 
Ouço vozes esmorecidas e vejo olhares que não brilham mais. É o desencanto com a Noiva.
Noto que a desilusão vem pela tristeza ao ver cenários onde o louvor e a pregação se transformam em fonte de lucro e não conseqüência de corações transbordantes. Pela proliferação de igrejas cada vez mais cheias, porém aparentemente tão vazias, menos comprometidas com a Palavra, sem sêde de santidade e paixão pelos perdidos. Segue pela tênue linha que por vezes parece não distinguir muito bem Igreja e mundo, especialmente quando o binômio interesse e finanças se apresenta,  e ainda pela dificuldade em identificar a Igreja de Cristo em meio aos movimentos religiosos.

O desencanto faz o povo  olhar para o passado e relembrar os velhos tempos. Comenta-se sobre os pastores à antiga  e  dias  quando a Igreja ainda via simplesmente na Palavra razão suficiente para o santo ajuntamento. Tempos quando o constrangimento por ser crente era resultado da discriminação, porém jamais identificação com o injusto e o desonesto.  Por fim suspira-se desanimado. 
Em momentos assim é preciso lembrar que Jesus jamais perdeu o absoluto controle sobre a história da Igreja. Jamais foi surpreendido por coisa alguma em todos estes anos. Jamais deixou de ser Senhor. Apesar das fortes cores de desalento a Noiva está sendo conduzida ao altar e o dia de brilho há de chegar.

Um amigo fez recentemente uma comparação entre a Igreja, a Noiva, e nossas noivas, nossas esposas. Levou-me a pensar no dia de meu casamento. Foi em 9 de dezembro de 1989. Já namorava Rossana há 4 anos e, apaixonados, chegamos ao grande dia. Apesar do amor e alegria pelo dia chegado tudo parecia fadado ao fracasso absoluto. As flores foram encomendadas erroneamente, a ornamentação do templo parecia jamais ter fim, o vestido apresentou defeitos de última hora, a maquilagem transcorria em um quarto apertado e com incrível agitação. A noiva chorou pelos desencontros do dia. O andar de cima da casa de meu sogro onde ela se arrumava tornou-se, aos meus olhos, em um pátio de guerra. Pessoas entrando e saindo apressadas, faces carregadas de ansiedade e um tom sempre apocalíptico a cada nova notícia. Ao longo dos anos percebi que os casamentos são parecidos neste ponto. A balbúrdia que cerca a noiva antecedendo seu momento de brilho é emblemática. Aos olhos do passante que vê a agitação sem fim, nada parece ter esperança.

Fui para a  cerimônia esperando o pior. Jamais seria possível contornar todos os imprevistos, e  o impensado  poderia acontecer: a noiva não estaria pronta! Enquanto pensava nisto, ali no altar, eis que ela chega. Estava linda, uma verdadeira princesa. O rosto sorridente, o caminhar lento e seguro, o vestido alvo como a neve, simplesmente perfeita . A música, a ornamentação, as palavras, tudo se encaixava. Que milagre poderia transformar um dia de caos em um momento de brilho tão belo?
As horas de luta, as lágrimas derramadas, os desencontros e desalento foram rapidamente esquecidos e um só pensamento pairava naquele saguão: a Noiva estava linda.
Talvez vivamos hoje dias melancólicos ao visualizar a Igreja quando manchas e mazelas tentam levar nossa esperança para o cativeiro da desilusão crônica. A casa está desarrumada, o vestido da Noiva não nos parece branco, há graves rumores de que ela não ficará pronta.

É, porém, em momentos assim que Deus intervém. Lava as vestes do Seu povo, levanta o caído, renova o profeta, purifica  a Igreja  e nos dá sonhos de alegria.
Chegará o dia, e não tarda, que seremos tomados por Jesus. Neste dia há de se dizer: Eis o Noivo, é o Senhor que conduz a Igreja. Jamais a deixou só. Como é fiel!
E creio que todos nós  também pensaremos, extremamente admirados: Eis a Noiva, como está linda!
“Regozijemo-nos, e exultemos, e demos-lhe a glória;
porque são chegadas as bodas do Cordeiro,
e já a sua noiva se preparou” (Apocalipse 19:7)




Liderança E Integridade
Com bastante frequência, somos inclinados a valorizar mais o que as pessoas possuem - suas habilidades, seu potencial - ou o que elas fazem - seu desempenho, suas realizações e o resultado por aquilo que ele é - seu caratér, sua integridade.
nnnnn


(Ronaldo Lidório http://www.ronaldo.lidorio.com.br)

Ronaldo Lidório: Apóstolo brasileiro


Por Leonardo Gonçalves, Do Púlpito Cristão

Eu acredito em apóstolos. Ao contrário do que alguém pode pensar, sempre cri em apóstolos. Se cresse de outro modo, jamais teria deixado meu país aos 18 anos de idade para peregrinar entre povos e cidades da América Latina, sem promessas financeiras e, a princípio, sem nenhum envio formal, levando apenas a convicção do meu chamado.

É claro que não creio no moderno movimento apostólico, importado da teologia Mórmon e pregado pelos arautos oriundos da outra América, a “próspera”. Não creio em apóstolos canônicos, cuja Palavra seja autoritativa e inspirada no mesmo grau dos escritos de Paulo, Pedro e os demais escritores bíblicos. Também não creio em apóstolos que fundam igrejas fazendo divisões, que negociam “coberturas” a pastores caídos que foram excluídos de suas denominações, que pregam prosperidade fácil e são presos com dólares na bíblia ou na cueca. Estes eu não engulo!

Contudo, a existência do falso não anula o verdadeiro, antes, o confirma. E considerando o sentido etimológico da palavra apostolo (no grego, “enviado”), posso dizer que ainda existe tal ministério. “Ele mesmo deu uns para apóstolos...

Diferente dos apóstolos modernos, os verdadeiros apóstolos contemporâneos são humildes, anônimos, e detestam holofotes. Muitos se consideram indignos do título, e preferem ser chamados de pastor ou de irmão. Agem assim porque sabem que o único título de que são dignos é o de “aprendiz de servo inútil”, pois não fizeram tudo o que lhes foi mandado.

Ronaldo Lidório é um líder que tem o dom de converter teologia em práxis, exatamente como deve ser. Ele é um daqueles pastores que enchem nosso coração de esperança, e nos fazem enxergar que a igreja de Cristo transcende aos escândalos, abusos e descalabros tão comuns na igreja contemporânea. Ele (presbiteriano) é a prova de que ser cheio do Espírito Santo não é falar em línguas desconexas pré-aprendidas, mas viver uma vida frutífera para a glória de Deus.

Lidório é o apóstolo Brasileiro. Suas credenciais apostólicas são os convertidos rebeirinhos do Brasil, Makandá e Labuer e mais de 40 pastores Konkombas. Sua carta de recomendação às igrejas? Seis mil convertidos entre aquela etnia.

Que a vida de Ronaldo e Rossana sirva de desafio para mais jovens serem missionários e lingüistas entre povos não-alcançados!




Liderança E Integridade
Com bastante frequência, somos inclinados a valorizar mais o que as pessoas possuem - suas habilidades, seu potencial - ou o que elas fazem - seu desempenho, suas realizações e o resultado por aquilo que ele é - seu caratér, sua integridade.
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Pentecoste


Pentecoste
Revestimento de poder para a pregação de Cristo
O Pentecoste, em Atos 2, foi possivelmente a experiência mais fascinante e transformadora da Igreja após a ressurreição de Cristo. O Espírito Santo é a pessoa central neste capítulo e Lucas é justamente o autor que mais o menciona nos Evangelhos. Naquele momento o Espírito Santo, prometido e proclamado diversas vezes por Jesus, veio sobre a Igreja e esta se viu inundada por línguas como de fogo, som de vento fortíssimo, irmãos e irmãs falando em outras línguas. Havia uma impressionante e inenarrável presença de Deus e o fato histórico é que esta Igreja jamais foi a mesma. Tornou-se audaciosa, comprometida e fiel a Jesus. Produziu discípulos dispostos a viver e a morrer por Cristo.

Pela tradição cristã Tiago, irmão de João, pregou a muitos gentios a partir de Jerusalém. Tomé evangelizou os pártios, medos e persas, além dos carmânios, hircânios, báctrios e mágios vindo a morrer em Calamina na Índia. Até nossos dias há no sul da Índia a Igreja de São Tomas, com referencia a Tomé. Simão, irmão de Judas e Tiago, evangelizou os egípcios no tempo do Imperador Trajano. Simão, o apóstolo, pregou a Cristo na Mauritânia e norte da África. Marcos evangelizou o Egito onde foi martirizado em Bucolus. 

Bartolomeu também chegou até a Índia e traduziu para uma de suas línguas o evangelho segundo Mateus, vindo a morrer na Armênia. André chegou com o evangelho até a região da atual Rússia e pregou aos cítios além de testemunhar aos etíopes. Mateus também evangelizou a Etiópia e o Egito vindo a ser morto por Hircano. Felipe padeceu pregando o evangelho em Hierápolis, na Frigia. Através dos cristãos anônimos o evangelho chegou também até a Acaia, toda a Ásia, entrou nos mais distantes redutos bárbaros, impactou a Macedônia e remotas regiões da África central.

Segundo a ONU dominicalmente mais de 1 bilhao de pessoas, ao redor do mundo, em nossos dias, reúne-se em templos, casas e escolas, cultuando a Jesus. Isto jamais seria possível sem o derramar do Espírito encharcando a Igreja de Cristo com o poder do Alto para a pregação a qual, em diversas ocasiões, implicaria em perseguição, renúncia e por vezes martírio.
Podemos observar, portanto, o Pentecoste do ponto de vista da própria Igreja: agora revestida de poder, preparada para a batalha, com profundo espírito de adoração e louvor. Porém podemos também observá-lo do ponto de vista da missão.

Justamente nesta época do Pentecoste estavam reunidos em Jerusalém os chamados Judeus da dispersão (2:5) os quais habitavam mais de 14 diferentes regiões e certamente conheciam e usavam diversas línguas gentílicas. O Espírito dá-se ao trabalho de inspirar Lucas para registrar que estes eram “partos, medos e elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia; da Frígia e Panfília, do Egito e das regiões da Líbia nas imediações de Cirene, e Romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios...”(v 9-11).
Em um espetáculo de comunicação transcultural o Espírito fez com que cada um ouvisse “as grandezas de Deus” em sua própria língua materna (v 8). Certamente Deus havia preparado as circunstâncias para o primeiro testemunho transcultural da Igreja revestida e penso que o Senhor queria enfatizar que:

1. A descida do Espírito Santo não aconteceu apenas como uma experiência para a edificação do seu povo - A Igreja não foi chamada apenas à adoração;

2. A primeira ação do Espírito Santo na Igreja ainda durante o Pentecoste foi lhes impelir ao testemunho falando das grandezas de Deus – Missão é resultado da ação do Espírito;

3. Este primeiro testemunho da Igreja revestida foi ao mesmo tempo local e transcultural; feito em línguas gentílicas para homens e mulheres de perto e também para aqueles dispersos em países remotos entre povos não alcançados – Igreja é uma comunidade sem fronteiras;

4. O “até aos confins da terra” era o alvo de Deus para Sua Igreja após o “recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo” - Deus preparava uma Igreja missionária.

Ao olharmos para um igreja local ou movimento missionário hoje não devemos nos impressionar com seus grandes congressos, renomados pregadores ou suntuosas construções. Estes são efeitos humanos. Devemos nos impressionar, sim, pela sua real experiência com Deus, perseverante caminhada na fé e desejo obstinado de falar de Jesus. Estes são os efeitos do Pentecoste.
Segundo Clemente – Livro dos Mártires, John Foxe, pp17
Relatório anual de disposição religiosa 2002



fonte/http://www.ronaldo.lidorio.com.br/

Treinamento Missionário - Parte 2



O Desafio do Preparo Missionário em um Contexto de Prejuízo Histórico


Antropologia Cultural

Entendamos inicialmente a relevância da Antropologia Cultural, ou ''Antropologia da Observação Cultural'' como definia M. Stuart no início dos anos 50, na necessária tarefa de ''explorar a possibilidade da comunicação do evangelho a outro grupo que, culturalmente, possua outros padrões de valores existenciais na transmissão de uma mensagem''. Fala a respeito da possibilidade de real comunicação entre dois grupos distintos com diferentes (e as vezes divergentes) cosmovisões.

Respondendo a um missionário que fortemente indagava ''mas qual a aplicabilidade da Antropologia Cultural em meu ministério'' comecei a responder dizendo:

''A Antropologia Cultural, funcionalmente definindo, é um instrumento de reconhecimento das perguntas existentes em certa cultura, socialmente interpretadas ou não pelo próprio grupo, entretanto necessárias para se diagnosticar os pontos de tensão socio-etnologico ali existente. Provê as ferramentas necessárias para o mapeamento cultural do grupo alvo através da definição da hierarquia social, hierarquia socio-espiritual, expressões ritualisticas e cerimoniais, cosmologia, cosmovisões e costumes, linguagem interativa e comunicabilidade. O alvo da antropologia cultural, missiologicamente falando, é levantar as perguntas socialmente relevantes afim de receber respostas biblicamente centradas. O alvo final é fomentar transformação de vida e sociedade através de um evangelho que faça sentido na cultura receptora e não apenas na mente e coração daquele que transmite.

Como exemplo poderíamos pensar sobre o tempo linear e cíclico. Quando um povo animista possui toda a sua cosmologia definida pelo tempo cíclico (baseado em acontecimentos que 'marcam' o tempo e necessariamente se repetem, não avançam ou retrocedem) e não linear (como o nosso tempo ocidental que segue uma linha contínua progressiva e não repetitiva) fazendo com que o dia 4 de julho de 1999 nunca venha a se repetir em nossos calendários, mentes e cosmologia, isto gera questionamentos socio-existenciais que precisam ser respondidos para a compreensão, aceitação e viabilidade cultural do evangelho dentre o povo.

Em termos práticos, é necessário saber quais são as perguntas (este é o trabalho da Antropologia Cultural) antes de tentar respondê-las (Teologia bíblica). Por exemplo, expor o evangelho numa perspectiva linear para um povo com cosmovisão cíclica terá um dos três possíveis resultados:

a) entendê-lo como uma mensagem alienígena e possivelmente aplicável apenas a uma cultura estrangeira;

b) entendê-lo parcialmente e tentar preencher os vácuos deixados com respostas da religião materna; o que geraria sincretismo religioso;

c) não entendê-lo.

Deixando o simplismo óbvio com o qual estamos lidando seria necessário pensarmos, numa perspectiva do prejuízo histórico no qual vivemos, quais seriam as áreas de estudo na Antropologia Cultural que fariam nossos missionários mais bem preparados para o grande desafio. Antes de propô-las devo remarcar que estou partindo de um pressuposto de envolvimento cultural a nível de M5 ou M6 e assim sendo, concentrando nossos pensamentos sobre o desafio principalmente entre os PNAs.

Dentre as mais variadas áreas da Antropologia como Antropologia Cultural, Etnicismo, Etnologia, Costumes e Culturas, Fenomenologia Religiosa e Comunicação Social há duas altamente relevantes para nossos candidatos à obra missionária transcultural que são Fenomenologia da Religião e Etnologia. A relevância destas duas áreas de estudo deve-se mais à observação dos comuns erros de campo (inclusive e principalmente os meus) do que em uma tentativa de estruturar um currículo ideal de conhecimento antropológico. Dentre estes ''erros comuns'' há três que tem vindo à tona quase sempre quando a comunicação é restritiva, parcial ou simplesmente ausente. Eles giram em torno da falta de compreensão de que:

1. Nem tudo o que é diferente é religioso

Entre os Bassaris, tribo vizinha aos Konkombas com os quais trabalhamos, há um complexo ritual onde um composto de água e gordura é derramado constantemente sobre o corpo de alguém morto recentemente, usando-se uma cuia de madeira enquanto algumas palavras são ditas por uma pequena multidão que se coloca ao redor. Próximo dali é acesa uma fogueira onde folhas verdes são queimadas enquanto um pouco de água é aspergida sobre o fogo por pessoas ligadas àquele que morreu. Lendo um relato de um missionário que esteve entre eles 20 anos atrás ele ao fim conclui: ''É um ato de invocação demoníaca afim de pedir aos espíritos que guiem aquele que morreu''. Nada mais longe da verdade.

Apesar da tribo Bassari ser animista e estar debaixo de forte influência do mal, este ato em particular não passa de uma forma de conservar o corpo do morto durante os dias de espera pelos parentes de aldeias distantes. A água e gordura têm uma propriedade de retardar a decomposição do corpo; a cuia é usada porque não há panelas ou copos; a multidão posta-se ao redor da fogueira porque é assim que reúnem-se todas as noites mesmo porquê não há energia elétrica, e folhas verdes são queimadas (com um pouco de água sendo aspergida) afim de produzir bastante fumaça e espantar os mosquitos. As palavras ditas são provavelmente os cumprimentos a cada pessoa que chega de outras aldeias para o funeral. Na verdade este não é um ato religioso mas sim um processo cultural-científico, ou ''apenas um ato social'' como diria Kenner.

Denomino de ''neurose espírito-fenomenológica'' a tendência que nós missionários temos de analisar religiosamente todo e qualquer fenômeno interpretando-o como quem chegou para dissecar a religiosidade cultural sem entretanto ver o povo como uma sociedade que vive e não apenas cultua.

2. Nem tudo o que é cerimonial é demoníaco

Duas posturas são destrutivas na ação missionária para fins de comunicação: não crer na ação demoníaca e crer que tudo é ação demoníaca. Afim de entender a diferença entre os dois pontos podemos usar o conhecimento missiológico, nossa teologia, observação e sabedoria. Entretanto creio que nunca entenderemos a raiz do que é diariamente posto à nossa frente se do alto não nos for dado discernimento espiritual. Um fator agravante é que os fenômenos religiosos em uma cultura recém alcançada devem ser entendidos e interpretados o mais cedo possível afim de ativar a comunicação aplicativa do Evangelho, o que nos força a tomar posições interpretativas quanto a fenômenos locais muito cedo, quando ainda estamos pouco imersos culturalmente.

Olhando ao redor do universo Konkomba poderia citar um grupo expressivo de fenômenos sociais ou religiosos que necessitam de um esforço de discernimento afim de identificá-los do ponto de vista espiritual como por exemplo a circuncisão de rapazes quando passam para a idade adulta tornando-se ''ujaman'' - homens; o corte da pele facial formando cicatrizes que apontam para o clã ao qual pertencem; a dança cerimonial após a morte de alguém; o banho de lama e óleo antes de um trabalho pesado ou longa viagem; a ''venda'' das crianças que nascem após haver morte infantil na família etc. Outros são claramente negativos mas igualmente carentes de interpretação social como a morte e uma criança quando nascem gêmeos abandonando-a numa floresta a noite ou mesmo o sacrifício de crianças ''defeituosas'' ou profundamente enfermas. Devemos entender que uma classificação normativa (demoníaco ou não demoníaco) pode saciar nossa sede de definições teológicas mas não são suficientes para alinhar um processo na ética de uma igreja que nasce entre um grupo recém alcançado; há necessidade de uma interpretação um pouco mais profunda levando em consideração que entre vários grupos (como animistas, hindus ou budistas) o comum não se dissocia do sagrado nem o material do espiritual havendo o que pode ser chamado, quase que paradoxalmente, de ''integração dialética''. Nota-se na nossa índole brasileira uma tendência exorcista onde não há demonismo e um conformismo espiritual quanto à sua real atuação.

3. Nem tudo o que é cultural é puro

Este é o outro lado da moeda. O etnicismo defende a pureza natural das culturas intocadas o que pode em certa instância, influenciar a comunicação. Devemos ser sempre relembrados de que o pecado é cultural. Ele não ocorre em um plano supra humano mas brota do coração do homem envolto em seus conceitos e costumes, manifestando-se moldado às circunstâncias externas como língua, costumes e meio ambiente e por fim caindo no mesmo abismo que foi aberto desde o início: a separação entre o homem caído e o Deus santo. O pecado é cultural, manifesta-se culturalmente e o homem, em sua cultura, necessita de redenção.

Entre os povos isolados (meninas dos olhos dos antropólogos etnicistas) não encontramos um paraíso de pureza cultural mas sim povos curvados ao inimigo, vivendo um inferno na terra e procurando quase desesperados alguma maneira de redenção, mesmo que temporária. Procuram redenção nos sacrifícios, ídolos, amuletos, tabus, magias, rituais demoníacos e penitências. Entendo que a redenção está em Jesus, a mensagem é o Evangelho e entregá-la a outros chama-se Missões.

Teologia Bíblica
Teologia bíblica é um termo que deve ser pré conceituado antes de prosseguirmos. Utilizo-o sob o pressuposto temático. Não se trata portanto de ramos teológicos, teologia sistemática ou de teologia verdadeiramente bíblicas mas simplesmente da sistematização bíblico-temática de assuntos específicos, como ''teologia de anjos'', ''teologia de pecado'' ou ''teologia de sofrimento'': um estudo bíblico temático vetero e neotestamentário. Definindo o termo, sigamos em frente.

A Antropologia Cultural tem como missão mapear, localizar e fazer as perguntas certas. Se olharmos para o Brasil, por exemplo, veremos um grande número de igrejas e pregadores que provêem diariamente respostas (muitas delas corretas teologicamente) para perguntas que nunca são feitas. Poucos interessam-se em estudar e compreender sobre câncer nos ossos quando na verdade o que os aflige é uma terrível gastrite. Esta é a primeira instrução antropológica cultural na abordagem de um novo grupo social: descubra as perguntas certas.

Denominações que, em países da América Latina, tem apresentado uma teologia de ''prosperidade e sofrimento'' ou mesmo de ''bênção e maldição'' (apenas para ficar em dois exemplos) tem achado público; não necessariamente pela seriedade das respostas (muitas sérias e outras não) mas sim pela identificação das perguntas. Em um superficial mapeamento cultural realizado em países socialmente existenciais como o Brasil facilmente veríamos que duas claras perguntas na mente do povo são: ''Porquê sofremos ?'' e ''Como melhoraremos ?''.

Entretanto localizar as perguntas certas não pressupõe sucesso na comunicação do evangelho. É necessário apresentar as respostas certas. Alerta: não as respostas que irão surtir efeito, satisfazer a alma ou gerar impacto individual e social: mas sim respostas biblicamente certas.

Dar respostas certas às perguntas certas normalmente é uma tarefa conflitante. Aqueles que o fizeram, já no primeiro século, foram apedrejados, expulsos, perseguidos, denominados de ''peste'' e ''transtornadores''. Para aqueles que pensam que uma genuína e culturalmente coerente exposição do evangelho redundará necessariamente em um positivo impacto social além de muitos frutos, precisamos ser relembrados que não se define Missões em termos de resultados mas sim de fidelidade ao Senhor. A questão final para a apresentação de uma teologia bíblica que responda à pergunta do coração do homem em sua cultura e língua não são os resultados humanos mas sim fidelidade ao Senhor e à Sua Palavra.

Nesta altura há duas verdades óbvias quanto ao treinamento missionário: primeiramente nossos candidatos à obra missionária precisam ser preparados biblicamente. Estudar a Palavra, conhecê-la, pesquisá-la textualmente, contextualmente e tematicamente. Investir em um bom preparo bíblico é investir diretamente no campo. Em segundo lugar precisamos entender que a fidelidade transpõe a habilidade. Neste momento o caráter cristão deveria ser a mais enfática disciplina em nossos cursos de formação missionária. Como um caráter à imagem de Cristo não pode ser forjado simplesmente em salas de aula precisamos urgentemente de discipuladores entre nossos professores de missões.

Uma grande descoberta pessoal tem sido a primária importância do caráter do missionário acima de sua habilidade de comunicar inteligivelmente o evangelho transpondo barreiras linguísticas, culturais, missiológicas etc.

Após três anos entre os Konkombas, quando a Igreja crescia rapidamente e o Evangelho alcançava lugares remotos perguntei aos líderes locais certa vez sobre a razão, principal, que colaborava para a nossa boa comunicação, mencionando três opções:

1. Habilidade de falar no dialeto local e ser entendido com facilidade;

2. Entendimento cultural, dos costumes e forma de vida Konkomba;

3. Envolvimento pessoal com a sociedade tribal, sendo aceito e aceitando-a;

Eles então responderam: ''O ponto mais importante para nosso povo parar para ouvi-lo é porque você sempre sorri quando nos vê, parando para nos cumprimentar e sempre alegre em ouvir''. Naquele dia escrevi em meu diário: ''caráter é mais importante que habilidade''.

Segundo Hustmann a história das missões se divide em três partes quanto ao conhecimento antropológico e aplicabilidade de teologia bíblica. Na etapa em que nos encontramos os erros antropológicos residem, não na falta do conhecimento mas na falta da disposição em aplicar o conhecimento. Em suma, um número reduzido de missionários erra hoje, em um nível básico de comunicação, devido à falta de entendimento da cultura ou conhecimento bíblico. Os grandes erros de comunicação são conseqüência de uma decisão em não aplicar o conhecimento adquirido. Problema de caráter, não de estudo.

Este princípio é também aplicável em todo um universo de existência missionária onde a grande maioria dos obreiros que voltam forçosamente do campo o fazem devido a problemas de relacionamento enquanto um pequeno índice apontaria para a falta de habilidade em aculturar-se. Caráter, em última instância, é o fator primordial que define relacionamentos, e relacionamentos (citando Abdulai Syin ) definem a pressuposição social de aceitação ou rejeição da mensagem que será pregada. Isto implicaria no fato de que, mesmo sendo o evangelho o poder de Deus, este Deus deseja que nós que o transmitimos, o façamos com fidelidade de vida e não apenas de conhecimento.

No universo Konkomba o julgamento de caráter precede a mensagem. A tribo terá disposição em ouvir aqueles que julga serem ''mbamon'', palavra que significa algo como ''altruísta'' ou ''verdadeiro'', título dado a homens e mulheres que, através de suas vidas e relacionamentos, são confiáveis o suficiente para serem ouvidos pelo grupo. Não se recebe o título de ''mbamon'' instantaneamente mas através de um processo de relacionamento interpessoal que espera-se ser mais prolongado quando trata-se de um estrangeiro. Obviamente falar e compreender a língua, morar com o povo e participar dos eventos importantes da tribo criam o ambiente para que o grupo tribal o estude e veja ''suas reações quando irado ou provocado'', diz um provérbio Konkomba que fala sobre os passos para a aceitação social. Entretanto eu diria que 70% da aceitabilidade e credibilidade dada a um missionário em uma outra cultura, para citar o nosso contexto transcultural, reside no julgamento do caráter a partir do relacionamento interpessoal e não da habilidade cultural. Esta institucionalização da aceitabilidade do mensageiro e sua mensagem não pode ser vista de maneira formal e sistematizada na grande maioria dos grupos sociais (através de cerimônias ou ritos por exemplo) entretanto permanece o princípio de que, apesar da mensagem ir além do mensageiro, a credibilidade do conteúdo da mensagem será avaliada pelo grupo a partir do caráter do mensageiro.


Ronaldo Lidório é pastor, teólogo, missionário e escritor. Atuou quase dez anos na África com plantio de igrejas e tradução bíblica para a língua Limonkpeln de Gana. Atualmente, lidera uma equipe missionária na Amazônia. É autor de vários livros, dentre eles ''Com a mão no arado'', ''Unafraid of the sacred forest'' e ''Restaurando o ardor missionário''.



Liderança E Integridade
Com bastante frequência, somos inclinados a valorizar mais o que as pessoas possuem - suas habilidades, seu potencial - ou o que elas fazem - seu desempenho, suas realizações e o resultado por aquilo que ele é - seu caratér, sua integridade.
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Via: www.guiame.com.br

Treinamento Missionário - Parte 1

Treinamento Missionário - Parte 1

O Desafio do Preparo Missionário em um Contexto de Prejuízo Histórico
Para entendermos os critérios das mudanças na área de ensino missiológico em todo o mundo nos últimos 30 anos precisamos estudar as tendências teológicas presentes em cada contexto.

A grosso modo veríamos que nos anos 70 a missiologia possuía uma ênfase eclesiológica localizada e pragmática. Avaliava-se na época a identidade da Igreja como comunidade responsável por transmitir o evangelho de Cristo por toda a terra. Esta ênfase eclesiológica com aplicabilidade pastoral/eclesiástica definia a formação da mentalidade evangélica levando à uma consciência de quem nós somos e para que fomos chamados. A parte das instituições missionárias especializadas nas áreas de tradução e serviço social não participavam integralmente do afã da Igreja e o treinamento missionário voltava-se mais para a conscientização da responsabilidade evangelistica do que para o método ou estratégia missionária. Foi uma época de fundamentação missiológica, a época dos conceitos, que preparou a Igreja dos países emergentes para a segunda década.

Nos anos 80 iniciou-se um processo centrado na análise e avaliação do campo missionário e notamos o que tenho chamado de ''Efeito PNA'' (Povos Não Alcançados) fazendo com que Missões passasse a ter uma forma gráfica e estatística. Quem são os PNAs, onde estão e como alcançá-los. Surgiram os pesquisadores, os movimentos de categorização da prioridade missionária no mundo e a ênfase na definição do que seria a grande meta missionária da Igreja nos próximos anos. Movimentos como AD 2.000, WEC International (AMEM), World Mission e outras dedicavam-se intensamente à tarefa de definir o que era, onde estava e qual a chance de alcançar os grupos ainda intocados pelo evangelho. Definiu-se a janela 10X40, entendeu-se a dimensão do desafio islâmico, foi revelada a necessidade de investimento missionário entre o crescente grupo dos 'Sem Religião'' e compreendeu-se melhor a permanente resistência dos grupos animistas além do sempre presente perigo do sincretismo religioso. Era a década da definição da largura, extensão e profundidade do restante não alcançado em nossa geração e do que ainda precisava ser feito.

Dois grandes passos haviam sido dados até então: a fundamentação de uma missiologia voltada para a identidade da Igreja e o estudo dos grupos alvos do esforço missionário. Neste ínterim, através do massivo envio missionários nos anos 80, percebeu-se a existência de uma brecha entre o ideal missionário e a realização missionária e assim entramos na década seguinte com uma forte consciência de que faltava algo.

Nos anos 90, com a visão das limitações missionárias, problemas frequentes de contextualização e comunicação transcultural, limitada aplicabilidade das teologias bíblicas em contexto inter-cultural e reduzido número de igrejas autóctones entre os grupos recém alcançados, fomos levados a crer que a formação missiológica, a descrição de nossa identidade funcional, princípios e conceitos como Corpo chamado a fazer diferença na terra, era insuficiente perante o sonho de plantio de igrejas no restante intocado do planeta. Faltavam-nos instrumentos, preparo prático, instrução sobre como fazer, tecnicabilidade; enfim, faltava-nos um manual sobre ''como fazer'' - treinamento missionário. Ao longo dos anos 90 nos rendemos à conclusão de que o grande desafio da década, e possivelmente da década seguinte, seria a preparação teológica, ortoprática e funcional de obreiros transculturais e assim passamos a falar em redefinição de currículos, idealização de melhores treinamentos, fundação de novas escolas de Missões e toda a ênfase voltou-se para a pessoa do missionário gerando também um aprofundamento nos critérios de aceitação, treinamento e envio de novos missionários. Fenomenologia da Religião, Antropologia Cultural, Fonética, Aprendizado de Línguas, Tradução e Teologia de Missões ganharam ênfase em várias instituições de ensino.

Ao fim da década de 90 a consciência da necessidade de melhor formação de obreiros foi captada de maneira geral entretanto ainda estudamos a melhor fórmula de fazê-lo. Precisamos de mais pragmatismo em nossa compreensão do caminho a tomar.

Prejuízo Histórico
Vivemos em um prejuízo histórico missionário como todos os países missiologicamente embrionários onde possuímos uma pequena leva de missiólogos para um grande número de instituições de treinamento missionário onde a grande maioria de nossos professores não tiveram a oportunidade de serem expostos a um contexto transcultural missionário e por outro lado, o grosso dos nossos missionários mais experientes ainda encontram-se na ativa em diferentes campos. Este é um prejuízo histórico comum no momento que nos encontramos, basicamente vivendo a nossa segunda geração missionária. D.L. Zabunn, professor de missiologia no Betany Mission Seminariy na África do Sul afirma que normalmente apenas a partir da sexta geração missionária um pais passa a contar com um número substancial de missionários envolvidos na formação de novos obreiros e ''devemos lembrar que missionários funcionalmente capazes em seus campos não são necessariamente missiólogos ou professores de missões'' . Países como a Coréia do Sul, Nova Zelândia, Austrália, Brasil e Tanzânia vivem situações parecidas do ponto de vista do preparo: a falta de uma ponte que una a realidade do desafio do campo missionário e a presente proposta de preparo missiológico.

É certo que não podemos lidar com todas as implicações desta realidade histórica na qual nos encontramos entretanto creio que podemos minimizar seus efeitos. Precisamos definir nossas prioridades e limitações em nosso treinamento e formação missionária. Costumo afirmar que, pela índole evangelística da Igreja brasileira, temos em nosso território um laboratório natural para a formação de plantadores de igrejas. Somos uma nação etnicamente multicultural e nossas raízes histórico / culturais remontam a um passado menos distante que países com homogenia étnica fazendo com que a chamada ''Expectativa Cultural'' seja menos gritante.

Para minimizarmos os efeitos do prejuízo histórico no qual nos encontramos creio que poderíamos pensar e tentar enfatizar, sob as definições de sua aplicabilidade funcional, três áreas da formação missionária as quais, pelo simples fato de serem comumente apontadas por obreiros provindos de ''novos países'' como as principais barreiras na tentativa de uma verdadeira comunicação do evangelho em grupos mais isolados, constituem para mim o supra sumo da nossa carência de treinamento integral. São elas a Antropologia Cultural, Teologia Bíblica e Aprendizado de Línguas.


Ronaldo Lidório é pastor, teólogo, missionário e escritor. Atuou quase dez anos na África com plantio de igrejas e tradução bíblica para a língua Limonkpeln de Gana. Atualmente, lidera uma equipe missionária na Amazônia. É autor de vários livros, dentre eles ''Com a mão no arado'', ''Unafraid of the sacred forest'' e ''Restaurando o ardor missionário''.




Liderança E Integridade
Com bastante frequência, somos inclinados a valorizar mais o que as pessoas possuem - suas habilidades, seu potencial - ou o que elas fazem - seu desempenho, suas realizações e o resultado por aquilo que ele é - seu caratér, sua integridade.
nnnnn

Ronaldo Lidório




Ronaldo Lidório é pastor, teólogo, missionário e escritor. Atuou quase dez anos na África com plantio de igrejas e tradução bíblica para a língua Limonkpeln de Gana. Atualmente, lidera uma equipe missionária na Amazônia. É autor de vários livros, dentre eles ''Com a mão no arado'', ''Unafraid of the sacred forest'' e ''Restaurando o ardor missionário''.


A Noiva Estava Linda

Treinamento Missionário - Parte 1


Treinamento Missionário - Parte 2


Ronaldo lidório: mais uma história de livramento


Quando Deus te reanima


Liderança e a luta contra o pecado - Parte I


A Natureza da Igreja



Liderança E Integridade
Com bastante frequência, somos inclinados a valorizar mais o que as pessoas possuem - suas habilidades, seu potencial - ou o que elas fazem - seu desempenho, suas realizações e o resultado por aquilo que ele é - seu caratér, sua integridade.
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A Natureza da Igreja

A Natureza da Igreja
Repensando nossa funcionalidade eclesiástica
Ronaldo Lidório

Ao refletir sobre a natureza da Igreja nos confrontamos imediatamente com algumas claras limitações. A primeira seria uma limitação sociológica, na medida de que todos nós, de alguma forma, temos sido influenciados por 2 fatores construtores da presente sociedade, o hedonismo e o narcisismo. Junto a alguns outros, os tenho chamado de elementos da anti-missão. Isto devido a capacidade que eles tem de postar o homem, e consequentemente a Igreja, no centro do universo, em nosso imaginário. Nos tornarmos, aos nossos próprios olhos, os atores principais do evento histórico.

É natural entender, portanto, que enquanto influenciados por esta limitação sociológica, teremos bastante dificuldade de conceber uma Igreja que seja chamada para servir a Deus com toda a sua alma, suas energias, seu dinheiro e seu tempo. Ao contrário, tal limitação lança-nos a consequências puramente humanistas, como o triunfalismo e ufanismo, e desemboca no orgulho, raiz de grandes males.

O hedonismo é esta tendência humana sociocultural, e teologicamente carnal, que nos leva a crer que existimos para nossa própria realização. Que nossa alegria e felicidade pessoal são os bens mais preciosos, pelo qual vale a pena tudo. Que para nos realizarmos podemos, e devemos, romper com quaisquer valores, religiosos ou sociais, passando por cima da Palavra, da família, do ministério e do relacionamento com o Pai.

A sociedade e seus meios de comunicação, as escolas e os púlpitos de muitas de nossas igrejas se tornaram hedônicos. Vivemos para nós mesmos, pensamos em nós mesmos, investimos em nós mesmos, teologizamos para nós mesmos e, consequentemente, não servimos ao Cordeiro Jesus, mas sim a nós mesmos.

Ainda parte desta limitação sociológica, há outro fenômeno que aqui podemos chamar de narcisismo. É o desejo - e desenfreada busca – pela beleza pessoal e público reconhecimento da mesma. Não basta estar no centro das atenções, é necessário que todos saibam disto. O narcisismo é este elemento da anti-missão que faz com que nós trabalhemos e nos esforcemos para o Senhor e Sua obra, desde que sejamos reconhecidos pelos nossos pares, aplaudidos, elevados em pedestais.

Tanto o hedonismo quanto o narcisismo corrompem não apenas a alma humana, sua integridade e santidade, mas também sua motivação. Há, portanto, muitas igrejas, pastores, líderes e missionários fazendo a coisa certa pela motivação errada.

É necessário neste momento, percebermos, que o desejo do Senhor revelado em toda a Sua Escritura não é formar um povo-escravo para o serviço, nem mesmo um centro qualificado de produção, mas discípulos que o amam, que sejam apaixonados por Seus projetos, e que o sigam. O desejo de Deus não é tão somente nos tornar funcionais, mas santos; não apenas nos tornar produtivos, mas íntegros; não apenas nos tornar servos, mas filhos.
A segunda limitação que temos ao refletir sobre a Igreja e sua natureza é uma limitação teológica, e me refiro aqui à teologia do serviço, ou teologia da missão. A maneira como nós compreendemos o nosso papel no Reino, e nos posicionamos em relação a ele. Para conversarmos sobre esta limitação leiamos o texto que se encontra em Atos 2: 37 a 47

37
Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?
38
Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.
39
Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar.
40
Com muitas outras palavras deu testemunho e exortava-os, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa.
41
Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.
42
E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.
43
Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos.
44
Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.
45
Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.
46
Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração,
47
Louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.
Atos é um livro teocrático, uma vez que foi escrito para evidenciar que Deus está no controle de todas as coisas. Ele é apresentado aqui neste livro como o Senhor absoluto da história, de nossas vidas e da Sua Igreja. Jamais se surpreende, jamais se corrompe. Esta imutabilidade do caráter de Deus é a certeza de que somos salvos.

Atos é também um livro fidedigno por ter sido escrito de forma a nos mostrar que Deus cumpre todas as suas promessas. Inicia já no capítulo 2 com o cumprimento da promessa do Senhor Jesus de que enviaria o consolador, o parakletos que estaria com a Igreja para conduzi-la a Cristo. O Espírito Santo se manifesta, portanto, para a Igreja e a reveste de autoridade e poder para servir.

Atos 2 pinta o quadro desta Igreja chamada segundo o coração de Deus.

Perceberemos que ela é uma Igreja Koinônica (orientada pela comunhão dos santos); uma igreja Kerygmática (proclamadora do Nome acima de todo Nome); Martírica (que vive segundo aquilo que crê); Proséitica (que tem vida de oração); Escriturística (que ama e segue a Palavra); Diákona (com paixão pelo serviço); Poimênica (que pastoreia o seu povo); e por fim Litúrgica (cuja vida é a adoração do Pai).

Antes de adentrarmos estes desafios bíblicos para nossos corações, podemos nos lembrar da teologia de John Knox quando ele defende que a ponte entre o conhecimento e a transformação é o quebrantamento. Ou seja, muito pode entrar em nossa mente, convencer-nos de verdades bíblicas profundas, mas este conhecimento gerará vidas transformadas somente se houver verdadeiro quebrantamento em nossos corações. E nem quebrantar a nós mesmos nós podemos. Por isto dependemos de Deus. Podemos orar pedindo ao Senhor: quebranta o meu coração para que as verdades da Sua Palavra sejam fogo transformador em nossa alma.

KOINÔNICA – A IGREJA NASCIDA PARA AMAR E CONVIVER COM O DIFERENTE

O verso 44 nos diz que “todos os que creram estavam juntos, e tinham tudo em comum”. A expressão “comum” aqui é koinos de onde temos koinonia, ou “comunhão”. Manifesta que a Igreja neste período histórico pós pentecostes era uma Igreja Koinônica.

Não significa que a Igreja do primeiro século era homogênea. Ao contrário, eram extremamente distintos. Havia intelectuais e gente simples; judeus e gentios; jovens e velhos.

Koinos significa que eles se amavam na diversidade. Que estavam tão deslumbrados com o Senhor Jesus que eram capazes de conviver com o irmão mais diferente, e com ele ter comunhão, porque havia Um que os unia.

Indica que a razão maior da nossa desunião não é sociológica – a percepção do diferente e a intolerância com o mesmo – mas sim teológica, nossa própria carnalidade, desejo de sobressairmos, sobressair nosso pensamento, sobressair nossa denominação, sobressair nosso símbolo. Ao fim, o motivo maior da nossa desunião é espiritual, carência profunda de conhecermos mais a Cristo e sermos como Ele.

O texto diz que esta Igreja louvava de casa em casa e no templo. O templo era o centro do culto formal (aqueles que gostam dos hinos sacros tocados ao piano de caldas) e as casas representavam os ajuntamentos informais (a turma do violão e dos cânticos contemporâneos, digamos assim).

O verso 32 nos diz que era um só coração (kardia, sentimentos) e uma só alma (psiche, pensamentos).

Durante o encontro do CONPLEI (Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas) em 2008, houve uma cena cativante no último dia. Era a ceia do Senhor. Irmãos de 47 etnias distintas, além dos não indígenas de várias nacionalidades, como uma pequena multidão de 1.200 pessoas ao redor da mesa de Cristo. Alguns cantavam, outros oravam, alguns traduziam o que estava acontecendo para a língua da sua etnia, e a mensagem era claríssima. Era como se todos declarassem: “somos diferentes, mas amamos a Jesus”.

Divisões, partidarismo, esquemas de superioridade teológica ou prática no Corpo de Cristo sempre será um problema de ordem espiritual. É um reflexo, um triste sinal, de que não estamos deslumbrados com o Jesus ao ponto de sua simples presença ser o suficiente para encher nossos corações e amar profundamente os deslumbrados como nós.

KERYGMÁTICA E MARTÍRICA – A IGREJA NASCIDA PARA AMAR E PROCLAMAR JESUS

Nos versos 40 e 41, lemos que “com muitas palavras deu testemunho e exortava-os dizendo: salvai-vos desta geração perversa. Então, os que aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas”.

Há duas palavras que andam de mãos dadas no Novo Testamento. Observei este importante detalhe durante o período de trabalho na tradução do Novo Testamento para a língua Limonkpeln de Gana. São elas Kerygma, normalmente traduzida por pregação ou proclamação (aponta para a proclamação audível e inteligível da mensagem), e martyria, traduzida por testemunho (modo de vida).

Curiosamente sempre que uma delas aparece, a outra a acompanha, e isto em todo o Novo Testamento. Dá-nos, assim, a clara impressão de que na mente de Cristo Ele construía uma Igreja que pudesse proclamá-lo de forma audível e inteligível em todo o mundo, mas que ao mesmo tempo pudesse vivê-Lo.

O Apóstolo Paulo parece ter compreendido bem esta parte da natureza da Igreja. Ele tanto ensina o povo de Deus que deve falar de Cristo a tempo e fora de tempo como grita a plenos pulmões: já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.

O desejo de Cristo, portanto, é sermos uma Igreja que tenha fiel teologia e também vida devocional. Uma Igreja habilidosa mas também piedosa. Uma Igreja que prega a Palavra, mas que vive a Palavra que prega. Enfim, uma Igreja kerygmática e martírica.

Um dos perigos imediato, e corruptor da natureza da Igreja é termos o melhor conteúdo, o melhor ministério, a mais expressiva Igreja, o mais relevante ensino, mas não termos vida com Deus. Isto nos leva à soberba, orgulho e arrogância. Mata o espírito, mata a fé, destrói a piedade e nos achamos em um vale seco onde nada se move; com estruturas lindas, mas sem vida com Deus; com colunas de mármore mas sem o Espírito Santo.

Paradoxalmente, vida piedosa e espírito quebrantado, com sinceridade e devoção, sem um sólido ensino da Palavra, sem zelo pelas Escrituras, provocará uma enxurrada de ações, em nome de Deus, que não são de Deus. Este é outro perigo imediato, e igualmente corruptor da Igreja: buscarmos a piedade e vida com Deus, sem o temor e ensino da Palavra, produzindo, assim, uma Igreja dinâmica e crescente, mas antropocêntrica e herética. Uma das igrejas que mais cresce em Gana é chamada Igreja do Espírito Santo. É a Igreja mais missionária, evangelizadora e que se envolve com ações sociais. Mas esta Igreja crê que seu fundador é a encarnação do Espírito Santo na terra. Quando ele fala é o Espírito Santo quem fala.

Portanto o desafio que temos é de não partirmos ao meio a nossa eclesiologia. É de termos uma boa doutrina, mas também uma vida piedosa; é conhecermos teologia, mas também praticarmos a fé cristã; é sermos kerygmáticos – que pregam em alto e bom som; mas também martíricos – que adoram o Nome acima de todo nome no secreto da sua casa; é sermos zelosos pelo culto e pelo texto bíblico, mas também colocarmos a mão no arado para o serviço e a missão.

Um dos relatos que mais me desafiou nos últimos tempos foi o testemunho de um juiz federal – por assim dizer – no interior da China. Ele foi preso, acusado de ser um cristão que praticava a evangelização em sua pequena cidade. Para que fosse humilhado publicamente foi levado a pé e algemado por alguns policiais, de sua casa até a central de polícia. Quem observou aquela caminhada testemunhou que todos estavam cabisbaixos, envergonhados e constrangidos pela prisão de um homem de tamanha importância, e muito querido na sua cidade. A multidão por onde ele passava, os soldados que o conduziam, todos cabisbaixos. O único com a cabeça erguida era o juiz cristão, que a medida que caminhava levantava também suas mãos gritando: Eu amo o Senhor Jesus!

DIÁKONA E POIMÊNICA – A IGREJA NASCIDA PARA SERVIR

O verso 45 nos diz que “vendiam suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade”. A expressão original para “à medida que” significa que os irmãos tinham olhos abertos para discernir onde e como poderiam servir.

O conhecimento das Escrituras e verdadeira espiritualidade desembocam no serviço, na missão.

As vezes compreendemos mal o conceito de missão e serviço. Servir a Cristo não é uma questão de desejo, oportunidade ou decisão pessoal. Servir a Cristo é uma questão de obediência. Se você estiver contente em servir ao Mestre, faça isto pela alegria que sente. Mas no dia em que faltarem alegria e prazer, sirva-o pela obediência. Isto porquê servir a Cristo não é um passeio no parque. Demanda, não raramente, morrermos mais e mais para nós mesmos.

Ao nosso redor observamos em um relance ambientes de injustiça, situações de profunda carência humana e desconhecimento do Senhor Jesus. É neste plano que a Igreja é chamada para servir. Para denunciar a injustiça, para saciar a fome daquele que nada tem e para anunciar o precioso Nome de Jesus.

CONCLUSÃO

Voltamos às primeiras palavras. Os elementos da anti-missão – hedonismo e narcisismo – que são expressões da obra da carne,e que nos preterem de sermos a Igreja segundo o coração de Deus.

A inércia que experimentamos não provém do nosso desconhecimento da necessidade humana ou do mandato de Deus, mas sim da nossa falta de paixão deslumbrante pelo Senhor Jesus.

Há no mundo hoje mais de 2.000 povos que não conhecem sobre Jesus. Falam mais de 3.000 línguas e dialetos sem nada da Palavra em seus idiomas. No Brasil temos 121 etnias indígenas ainda pouco ou não evangelizadas, e 95 sem presença missionária. Há mais de meio milhão de ciganos em nossa pátria que não conhecem a Palavra. As tribos urbanas nas grandes cidades relativizam a vida e, ao contrário de se tornarem ateus, passam a crer em tudo. Vivem a procura de um deus utilitário para saciar uma sociedade humanista.

Jim Eliott, mártir entre os Auca no Equador, em uma carta que escrevera à sua igreja na América do Norte, concluiu dizendo: “viva de tal forma, que ao chegar o dia da sua morte, nada mais tenha a fazer para Deus, a não ser morrer”.



Liderança E Integridade
Com bastante frequência, somos inclinados a valorizar mais o que as pessoas possuem - suas habilidades, seu potencial - ou o que elas fazem - seu desempenho, suas realizações e o resultado por aquilo que ele é - seu caratér, sua integridade.
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(Ronaldo Lidório http://www.ronaldo.lidorio.com.br)

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