Meu orientador no programa de mestrado na Universidade Metodista, Jung Mo Sung, recomendou que eu lesse, “Theology of the pain of God”, do teólogo japonês, Dr. Kazoh Kitamori (1916-1998). Comecei e não quero mais parar.
Quando Kitamori escreveu sua teologia, deu muito o que falar. Ele percebia algumas verdades por um viés diferente e acabou comentado por feras como Heinrich Ott, Jürgen Moltmann, Dorothe Solle, Hans Kung e, mais recentemente, Allister McGrath.
Embora aclamado como o teólogo japonês mais lido de todos os tempos, Kitamori foi condenado ao ostracismo pelo “main stream” evangélico de seu país. Consciente do fato, ele gostava de citar o texto de Hebreus 13.12, que relata a morte de Jesus do lado de fora dos portões de Jerusalém. Kitamori se considerava um ''marginalizado'' que caminhava e laborava teologicamente de ''fora dos portões''.
A teologia de Kitamori é asiática, e isso quer dizer: ele não considerava os mesmos pressupostos gregos que alicerçaram a teologia ocidental. Já no primeiro capítulo Kitamori afirma:
''A tarefa da 'teologia da dor de Deus' é suplantar a teologia que advoga um Deus que não tem nenhuma dor...; a teologia da dor de Deus lida com dois lados da verdade, e assim, nossa presente tarefa também deve ir contra dois lados: (1) contra a posição que rejeita um Deus 'todo-inclusivo', e (2) contra a posição que exclui a dor de Deus de seu amor inclusivo''.
No prefácio da quinta edição, Kitamori se antecipa aos seus críticos, e afirma: “A teologia da dor de Deus não significa que dor exista em Deus como substância. A dor de Deus não é um 'conceito de substância' - mas um 'conceito de relação', uma natureza do 'amor de Deus''.
Devagar, ainda leio as primeiras páginas, mas sinto necessidade de registrar alguns pensamentos seus; até para que assimile tanta informação nova e bonita:
''Devemos esquadrinhar o coração do evangelho procurando conhecer a vontade de Deus minunciosamente (Cl 1.9) e investigando as profundezas de Deus (1Co 2.10). Esta petição deve tornar-se nossa, como na oração de Kierkgaard:
Senhor! Dá-nos olhos fracos
para o que não tem nenhum valor
e olhos nítidos
para toda a tua verdade.
(...) O coração do evangelho me foi revelado como a ''dor de Deus''. Esta revelação me conduziu à senda por onde o profeta Jeremias trilhou (Jr 31.20). Jeremias foi um homem 'que viu o coração de Deus mais profundamente'. (Kittel). Sinto-me pleno de gratidão porque me foi permitido experimentar as profundezas do coração de Deus com Jeremias.
Jeremias pode ser chamado o Paulo do Antigo Testamento; Paulo foi o Jeremias do Novo. 'Deus na cruz' para Paulo é o 'Deus em tormento', de Jeremias. Deus que se revelou a Jeremias serviu de profecia e testemunho sobre o Deus que se revelou a Paulo. Quando o 'Deus na cruz' é oculto, a teologia da 'dor de Deus' servirá para clarear este trajeto obscurecido''.
Espero navegar nas águas deste pensador japonês e, pela primeira vez, inteirar-me de sua teologia.
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Vou ler e meditar; depois escrevo mais.
Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim
Ricardo Gondim é teólogo brasileiro, presidente nacional da Assembléia de Deus Betesda, presidente do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos e conferencista. Tem programa de rádio e é colunista de vários veículos de comunicação.
Livros de Ricardo Gondim
O que a Bíblia permite e a igreja proíbe
Afinal, a Bíblia proíbe mesmo tudo isto, ou não há respaldo nas Escrituras para essas proibições?
Via: www.guiame.com.br
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