Estudos Biblicos

Frequentar Igreja Como Ato de Adoração

Todos os cristãos devem freqüentar a igreja todas as semanas, sem falta, anão ser que sejam impedidospor alguma enfermidade, por algum serviço obrigatório ou por alguma outra necessidade premente”
Numa sociedade de consumo como a nossa, a primeira reação é: "Por quê? Que vantagens a igreja me oferece?". leia mais


As Qualificações Bíblicas dos Pastores

Paulo cita as qualificações dos bispos leia mais





A Autoridade Ministerial está firmada em três bases:
NO ANTIGO TESTAMENTO

1. A Primeira Base da Autoridade Ministerial no AT: O Chamado

1.1 - Iniciativa de Deus (Noé, Levitas, Família de Arão). leia mais




O Pastor como Pastor de Ovelhas

Um pastor de ovelhas é a metáfora mais adequada ao conceito bíblico de pastor. A sociedade considera o pastor um profissional – e o faz com propriedade. Entretanto, algo novo e simples é restabelecido, quando os pastores se vêem como pastores do rebanho que Deus colocou sob os seus cuidados.Leia Mais

14 ERROS QUE UM TEÓLOGO NÃO PODE COMETER.

1) Deixar de falar "com Deus" para apenas falar "sobre" Deus, reduzindo-o unicamente ao objeto de seu estudo. Leia Mais







Frases John Maxwel

A diferença entre pessoas comuns e pessoas bem-sucedidas é a percepção e resposta ao fracasso.(John Maxwel) Leia mais






Frases mike murdock
Você nunca mudará sua vida até que você mude alguma coisa que você faz diariamente.
(mike murdock) leia mais




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Paulo traiu Jesus?

Paulo traiu Jesus?

Por Augustus Nicodemus


Paulo traiu Jesus?

Uma das revistas de grande circulação no Brasil, a Superinteressante , publicou em sua edição de dezembro de 2003 uma matéria de capa onde acusa Paulo de ter traído Jesus e ter iniciado o Cristianismo, que acabou prevalecendo sobre o Judaísmo reformado que Jesus teria desejado implantar. Não é a primeira vez que esta acusação é feita, mas existe uma história até chegarmos aqui.

Paulo sempre foi visto pelo Cristianismo antigo e histórico como fiel apóstolo de Cristo, responsável pela interpretação e sintetização do que a vida e obra de Cristo representam. Há uma continuação direta entre o conceito de Reino pregado por Jesus e aquele da justificação pela fé defendido por Paulo, conceito este que, especialmente debaixo da influência da experiência de conversão de Lutero, foi considerado na Reforma como o centro da teologia de Paulo.

Debaixo da influência do pietismo pós-reforma, no entanto, o centro da teologia de Paulo passou a ser entendido como o processo de salvação individual e santificação. O centro deslocou-se do aspecto forênsico (justificação) para aspectos mais pneumáticos e éticos da pregação paulina. Com a chegada do racionalismo nos estudos neotestamentários no século XVII, surgiram diferentes interpretações de Paulo por parte de várias escolas alemãs de estudos bíblicos. F. C. Baür e a Escola de Tübingen entenderam que o centro do pensamento de Paulo não era sua cristologia, mas sua pneumatologia. Em particular, na antítese entre o espírito e a carne . Essa antítese era entendida em termos hegelianos, como se referindo à antítese entre o absoluto e infinito (espírito) e o finito (carne). Paulo teria desenvolvido essa antítese em reação ao cristianismo judaico. Baür conseguiu estabelecer firmemente nos círculos acadêmicos modernos a idéia de que Paulo desenvolveu sua teologia em separado de Jesus e dos demais apóstolos.

Esse pensamento foi fortalecido pela obra de outro teólogo liberal alemão, Wilhelm Wrede, para quem a essência do pensamento de Paulo é a doutrina de Cristo e a sua obra – redenção em escala cósmica. Paulo teria tornado os fatos redentivos (encarnação, morte e ressurreição) em fundamento da religião. Portanto, a história da redenção seria o pilar fundamental do cristianismo paulino. A única maneira plausível pela qual Paulo poderia ter tomado a figura do Jesus histórico e a transformado no Cristo paulino é se ele já tivesse em sua formação e mente alguns conceitos pré-definidos sobre um ser divino (o mito do redentor cósmico das religiões de mistério), que ele então teria transferido para o Jesus histórico debaixo do impacto da ressurreição (que para Wrede não foi literal). Como resultado, Wrede aprofunda ainda mais a separação entre Paulo e Jesus.

Depois dele, os estudiosos voltaram-se para o fenômeno das religiões populares da época de Paulo, no helenismo, em busca das fontes e origens de seu pensamento. Focalizaram-se especialmente no sincretismo religioso daquela época, que era o resultado da invasão das religiões orientais de mistério na cultura grega. Bousset, um dos estudiosos mais destacados desse período, explicou o Cristo de Paulo como uma reinterpretação mística do Cristo escatológico da igreja palestina primitiva. Para ele, Paulo havia "recauchutado" o conceito e gerado a idéia do Kurios pneumático, sob a influência do cristianismo helenista (que já existia antes dele) e das religiões de mistério. Ou seja, Paulo teria se afastado completamente do evangelho judaico pregado por Jesus e criado uma religião helenística.

Algumas tentativas foram feitas para encontrar a matriz do pensamento de Paulo no gnosticismo. Reitzenstein apelou para a literatura Hermética, que reflete uma religião influenciada pelo Judaísmo, religiões egípcias e orientais. Reitzenstein acreditava que Paulo havia sido profundamente influenciado por esse tipo de gnosticismo helenista, pois ele usava muitas palavras similares, como psikukos , pneumatikos , gnosis , agnosia , potizein , etc. Para ele, Paulo foi o maior de todos os gnósticos. Sua tese deixou marcas profundas nos estudos paulinos.

Estas teses do antigo liberalismo alemão sobre a origem do pensamento de Paulo estão hoje largamente desacreditadas nos meios acadêmicos da Europa e Estados Unidos, de onde vem grande parte da teologia que desembarca aqui no Brasil. Os estudiosos mais e mais perceberam de que a estrutura do pensamento de Paulo não é a cristologia penumática que ele teria elaborado. A matriz do pensamento de Paulo não está no helenismo, mas na revelação histórica de Cristo na plenitude dos tempos, o cumprimento cristocêntrico das promessas feitas a Israel. Vide a obra gigantesca de Herman Ridderbos, neste sentido.

Entretanto, alguém precisa dizer aos Galileus , Isto é , Épocas e Superinteressantes da vida que estas teses que sempre levantam são de uma fase dos estudos neotestamentários já superada. São apenas matérias sensacionalistas. Paulo nunca traiu Jesus. Ele não é o autor do Cristianismo e nem criou uma forma de Cristianismo que fosse diferente em essência daquela preconizada no Antigo Testamento e estabelecida por Jesus Cristo. É lamentável constatar que a teologia brasileira está sendo feita não por teólogos responsáveis, mas por jornalistas incultos, despreparados e desatualizados

Augustus Nicodemus

É bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (Recife), mestre em Novo Testamento pela Universidade Reformada de Potchefstroom (África do Sul)

Biografia Augustus Nicodemus



O Que Estão Fazendo Com A Minha Igreja
O autor faz uma análise profunda e detalhada desta crise. Os capítulos foram divididos em blocos temáticos, nos quais ele define e discorre sobre as diversas linhas teológicas que se verificam no Brasil, inclusive as mais tradicionais.
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As Divisões da Igreja de Corinto - Retrato de Hoje

As Divisões da Igreja de Corinto - Retrato de Hoje

Por Augustus Nicodemus

Apesar de ser uma igreja que se via como espiritual (1 Coríntios 3.1) e de ser voltada para a busca de dons carismáticos (1 Coríntios 12.31; 14.1; 14.12), a igreja de Corinto estava na iminência de dividir-se em pelo menos quatro pedaços. Paulo, ao escrever-lhes, menciona que tem conhecimento de quatro grupos dentro da comunidade que ameaçavam a sua unidade: os de Paulo, os de Pedro, os de Apolo e os de Cristo (1 Coríntios 1.11-12). A igreja de Corinto, com seu espírito faccioso e divisionista, a despeito de sua pretensa espiritualidade, ficou na história como um alerta às igrejas cristãs de todo o mundo, registrado na carta que Paulo lhes escreveu.

Para aprendermos a lição, devemos primeiramente entender o racha que estava por acontecer naquela igreja. E não é um desafio fácil determinar com relativa certeza a natureza e identificação de cada um dos grupos mencionados por Paulo em 1 Coríntios 1.12.

Uma explicação popular é a dos partidos teológicos. Para alguns estudiosos, os aderentes de Pedro, Paulo e Apolo haviam-se agrupado em torno das suas doutrinas distintas, formando uma divisão rígida dentro da igreja. Estes grupos se caracterizavam por manter as ênfases doutrinárias características daqueles líderes. Geralmente se ouve falar que os de Pedro mantinham um Cristianismo judaico rígido e intolerante, até meio legalista; que os de Paulo eram mais abertos, enfatizando a salvação pela fé sem as obras da lei, e que os de Apolo seguiam a hermenêutica alegórica do eloqüente alexandrino. A realidade é que não há qualquer indício em 1 Coríntios 1-4 da existência de partidos teológicos. A relação entre a teologia dos líderes favoritos e a formação destes partidos em torno de seus nomes é altamente especulativa.

O que se percebe é que havia a escolha pessoal de cada coríntio de um líder favorito, de quem ele se vangloriava de ser discípulo (1 Coríntios 1.12; 3.21). As contendas se davam porque cada um deles afirmava que seu eleito era o melhor (3.21, 4.6). Percebemos ainda que existe uma relação estreita entre o apego à filosofia grega e a formação dos partidos em 1 Coríntios 1-4. Os slogans “eu sou de...” soam como culto à personalidade, um erro no qual crentes neófitos e imaturos caem com freqüência. No caso dos coríntios em particular, esse culto à personalidade tinha recebido um impulso adicional da sua tendência, como gregos, de exaltar os mestres religiosos ao status de theioi anthropoi , homens possuindo qualidades divinas. As principais escolas filosóficas da Grécia costumavam invocar o nome de seus fundadores e principais mestres. Esse costume poderia explicar a vanglória dos coríntios em seguir Paulo, Pedro, Apolo e mesmo o Mestre de todos, Cristo.

Os slogans usados pelos coríntios (“eu sou de...”) ratificam esse ponto. O problema tinha a ver com a tendência comum de alguns crentes de venerar líderes cristãos reconhecidos . Com exceção de Cristo, os nomes escolhidos pelos coríntios são de um apóstolo (Pedro e Paulo) ou de alguém associado com eles (Apolo): Paulo era o fundador apostólico da igreja (4.15); Apolo, por sua vez, embora não considerado no Novo Testamento como um apóstolo, era um pregador eloqüente e tinha desenvolvido um ministério frutífero entre os coríntios, depois da partida de Paulo (3.6, cf. At 18.24-28, 19.1); E Pedro era o conhecido líder dos apóstolos, e muitos possivelmente teriam sido atraídos a ele, embora não seja certo que alguma vez ele haja visitado a igreja de Corinto.

Os “de Cristo” são notoriamente difíceis de se identificar. Embora a escolha do nome de Cristo tenha sido possivelmente uma reação ao partidarismo em torno de nomes de homens, os seus aderentes nada mais são que outro partido. Eles se vangloriavam de que seguiam a Cristo somente, e não a homens, mesmo que estes fossem apóstolos. Paulo os teria criticado pela forma facciosa com a qual afirmavam esta posição aparentemente correta. É provável que os membros do partido “de Cristo” eram os mesmos “espirituais”, um grupo na igreja que se considerava “espiritual” (cf. 3.1; 12.1; 14.37). Para eles, o conceito de ser “espiritual” estava relacionado com o uso dos dons espirituais, principalmente de línguas e de profecia. Este grupo, por causa do acesso direto que julgava ter a Deus, através dos dons, teria considerado desnecessário o ministério de Paulo, tinham-no em pouca conta, e mesmo queriam julgar a sua mensagem (1 Coríntios 4.3; 4.18-21; 8.1-2; 9.3). Esse seria o grupo “de Cristo,” cujos membros (em sua própria avaliação) não dependiam de homem algum, mas somente e diretamente do Senhor, através dos dons. Paulo faz pouco caso das suas reivindicações, e considera a igreja toda como sendo “de Cristo” (cf. 3.23; 2 Coríntios 10.7).

É o próprio Paulo, entretanto, quem nos revela a causa interna principal para as divisões entre os coríntios: eles ainda eram carnais (1 Coríntios 3.1-4; cf. Gálatas 5.20). Esta carnalidade, embora deva ser interpretada primariamente como imaturidade, em contraste aos “maduros” ou “perfeitos” (1 Coríntios 2.6), carrega uma conotação ética, como a expressão “andar segundo os homens” (1 Coríntios 3.3) indica.

Podemos concluir que os partidos de Paulo, Apolo, Cefas e Cristo, que estavam rachando a igreja de Corinto, não eram partidos teológicos, isto é, aglutinados em torno da suposta teologia de cada um destes nomes. Mais provavelmente, os partidos se formaram a partir das preferências pessoais dos coríntios individualmente, tendo como impulso a sua imaturidade, sua carnalidade, e sua tendência, como gregos, de exaltar mestres religiosos. O partido de Cristo, por sua vez, havia se formado por outro motivo, a enfatuação religiosa produzida pelos dons carismáticos.

A situação triste da igreja de Corinto nos fornece um retrato do espírito divisivo que ainda hoje permeia as igrejas evangélicas. É um texto básico para ser pregado e ensinado nas igrejas e seminários. Embora haja momentos em que uma divisão seja necessária (quando, por exemplo, uma denominação abandona as Escrituras como regra de fé e prática), percebemos que as causas do intenso divisionismo evangélico no Brasil são intrinsecamente corintianas: imaturidade, carnalidade, culto à personalidade, orgulho espiritual, mundanismo. Nem sempre os líderes são culpados do culto à personalidade que crentes imaturos lhes prestam. Paulo, Apolo e Pedro certamente teriam rejeitado a formação de fã-clubes em torno de seus nomes. De qualquer forma, os líderes evangélicos sempre deveriam procurar evitar dar qualquer ocasião para que isto ocorra, como o próprio Paulo havia feito (1 Coríntios 1.13-17). Infelizmente, o conceito de ministério que prevalece em muitos quartéis evangélicos de hoje é exatamente aquele que Paulo combate em 1 Coríntios.

Augustus Nicodemus

É bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (Recife), mestre em Novo Testamento pela Universidade Reformada de Potchefstroom (África do Sul)

Biografia Augustus Nicodemus



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A importância da Hermenêutica Bíblica - Parte 2

A importância da Hermenêutica Bíblica - Parte 2

Por Augustus Nicodemus

Tendo falado da necessidade e da importância da hermenêutica, deixe-me mencionar alguns aspectos dos seus princípios fundamentais: 1. o aspecto pneumatológico; 2. o aspecto teológico; 3. o aspecto gramático.

Em primeiro lugar, tem-se o aspecto pneumatológico, ou seja, qual é o papel do Espírito Santo na hermenêutica. É claro que essa pergunta só tem relevância para quem acredita no Espírito Santo. Essa pergunta não tem a menor relevância fora dos círculos evangélicos em que o Espírito Santo é considerado apenas como uma mitologia dos escritores do Novo e do Antigo Testamento, como uma coisa criada por eles, ou simplesmente como uma personificação de uma força que procede de Deus. No entanto, para os protestantes históricos, que levam a Bíblia a sério, o Espírito Santo é a terceira pessoa da trindade, que foi dada pelo Pai à igreja para conduzi-la. O próprio Jesus disse que, quando o Espírito Santo vier, ele haverá de conduzir a toda a verdade e haverá de nos guiar e nos levar ao conhecimento dele. E aqui eu faria uma pergunta para começar, tendo em vista a seguinte situação. Se numa sala eu colocasse dez ateus que não acreditam em Deus, mas que são absolutamente bem versados em grego, hebraico, aramaico, história, arqueologia, sociologia, antropologia, literatura clássica, grego clássico, latim, pais da igreja — eles dominam completamente a Ciência da Religião, mas são ateus — e desse a eles o texto de 1Coríntios 15, quando Paulo diz: “o que farão os que se batizam pelos mortos”, para que eles interpretassem. E se, do mesmo modo, numa sala ao lado, eu colocasse dez irmãos, santos irmãos de Deus, homens de Deus, crentes, de oração, de jejum, mas que mal soubessem ler a Bíblia direito, e fizesse a mesma coisa dando a versão em português e fazendo a mesma pergunta sobre o texto de 1Coríntios 15, referente ao batismo pelos mortos. Quem vocês acham que é o grupo que terá melhor condição de dar a resposta correta?

Grande parte da interpretação e do trabalho da hermenêutica se resume à aplicação simples de regras e independe da espiritualidade da pessoa. É uma questão de aplicação de regras, é uma questão de gramática, é uma questão de sintaxe, é uma questão de comparação com outros textos, é uma questão de bom senso e, em grande parte, independe da espiritualidade. Todavia, ao dizer isso, nós não estamos negando o papel do Espírito Santo na compreensão das Escrituras. Na minha tradição (cristã reformada calvinista), quando nós falamos do papel do Espírito Santo na interpretação, nós entendemos que não é função do Espírito Santo transmitir ao intérprete conhecimento novo, mas fazer com que ele compreenda salvadoramente esse conteúdo. Será que jejum, oração e comunhão com Deus substituem o papel da gramática, do estudo do grego, da história, da arqueologia? Será que uma coisa substitui a outra? A julgar pela qualidade da pregação de alguns irmãos “espirituais”, eu diria que não. Afinal, boa parte da exegese e da interpretação é aplicação de regras, de normas, porque estamos lidando com um texto, e nós precisamos aplicar as regras dessa maneira. Todavia, como hermeneutas cristãos, o Espírito Santo não pode ser deixado de lado quando nós pensamos em nossa tarefa de interpretação do texto. Geralmente dividimos em três etapas a obra do Espírito em comunicar a verdade de Deus.

  • A primeira parte é chamada de revelação — que nós distinguimos das chamadas revelações pessoais, da direção pessoal, que alguns irmãos hoje reivindicam. A revelação a que me refiro aqui é a revelação das grandes verdades de Deus que formaram as Escrituras Sagradas. Nós dizemos que essa revelação é a atuação do Espírito Santo nos autores bíblicos, no ato de registrarem infalivelmente a palavra de Deus.
  • A segunda fase é a iluminação, momento em que o Espírito atua nos leitores esclarecendo as mentes para compreender a verdade revelada nas Escrituras de tal maneira que nós possamos recebê-la de coração e acreditar nela.
  • A terceira fase é a capacitação, momento em que o Espírito Santo capacita os pregadores para comunicar a mensagem que eles entenderam, abraçaram de todo o coração e creram salvadoramente.
    A atuação iluminadora do Espírito de Deus na interpretação das Escrituras é uma ação frequentemente ignorada por estudiosos comprometidos com o método histórico-crítico e seus pressupostos. Como resultado, o método histórico-crítico produziu pouca coisa que pudesse ser pregada, esvaziou púlpitos e igrejas, e, como vocês sabem, o liberalismo teológico “secou” igrejas protestantes na Europa.

Para os pregadores comprometidos com a autoridade da Escritura, a atuação do Espírito Santo deve ser levada em conta, considerando a natureza da mensagem bíblica e a situação de cegueira espiritual a qual o homem está sujeito. Todo estudo não deve ser feito à revelia da nossa comunhão com Deus.

O segundo aspecto é o teológico que também afeta a pregação e a compreensão. Eu começo com uma declaração que está totalmente pressuposta no livro (A espiral hermenêutica), a de que a hermenêutica é como uma espiral: “não existe interpretação neutra”. É um mito racionalista aquilo que eles chamam de exegese científica e é uma das coisas que eu considero desonesta dos proponentes do método histórico-crítico. Eles querem avançar esse método, considerando-o como um método científico. Com isso, querem dizer que é um método neutro, que exclui os pressupostos transcendentes — como se isso fosse possível.

Já se provou, já se sabe que a neutralidade científica é impossível em todas as áreas do conhecimento. Nós sempre somos guiados a ler a realidade dos textos a partir daquilo que nós cremos, das nossas pressuposições. Daí a importância da Teologia, ninguém pode se livrar da Teologia em hermenêutica.

O papel do pressuposto teológico sempre foi destacar que primeiro “creio e por isso sei”. Em nossos dias, vemos o abandono gradual dessa utopia racionalista de neutralidade e uma nova apreciação pelo envolvimento do intérprete na exegese. Na verdade, a igreja sempre disse isto: se a pessoa não crer, ela não vai entender a mensagem. Se nós tivermos os pressupostos teológicos corretos sobre Deus e as Escrituras, isso irá nos colocar numa posição em que melhor entenderemos a sua mensagem. Isso faz com que cristãos do mundo todo que possuem diferentes horizontes de compreensão, vindos de diferentes culturas, e que passaram por diferentes experiências consigam interpretar a Bíblia da mesma forma, a ponto de pregar a mesma mensagem.

O terceiro é o aspecto gramatical, a importância das línguas originais. Só com o conhecimento do português, nós perderemos eventualmente, determinados efeitos ou pontos que estão no grego, no hebraico e no aramaico que são difíceis de serem transmitidos na tradução. Por exemplo, os tempos do verbo hebraico, ou a qualidade de ação dos verbos gregos, o jogo de palavras que são similares no grego, o paralelismo da poesia hebraica.
Dessa forma, desejo dar alguns conselhos aos pregadores:

  • Primeiro, toda prática precisa de um fundamento teórico sólido. Os que abandonam o estudo sério da Bíblia e vão diretamente para a prática, cedo ou tarde, irão sentir falta de fundamentos teóricos e doutrinários.
  • Segundo, a palavra de Deus é o fundamento da prática missionária, do aconselhamento, do culto, do serviço cristão e, especialmente, da pregação.
  • Terceiro, como pastores e obreiros, deveríamos ser mais profissionais com aquilo que trabalhamos em nosso ministério.

Quero falar ainda, sobre gênero literário dentro do aspecto gramatical. O termo gênero significa tipo que se refere a diferentes formas, figuras de linguagem, estilos, que são empregados na comunicação escrita em geral. Na Bíblia, nós temos vários gêneros literários. No livro dos Salmos, encontramos salmos especiais de lamento, lamentações comunais, ações de graças, sabedoria; nos evangelhos encontramos narrativa, história de pronunciamento, parábola, declarações de sabedoria, textos messiânicos; nas cartas do Novo Testamento, temos exortação, etc. Pregar a Bíblia com competência é fazer isso com consciência dos gêneros que estão presentes nela.

Para concluir, queremos retomar algumas questões que nos ajudarão a vencer o distanciamento causado pelo aspecto humano. Nada pode vencer esse distanciamento a não ser a aproximação do texto e do contexto originais. E como se faz isso?

  • Faça uma boa leitura de material introdutório aos livros bíblicos, livros de hermenêutica, como A espiral hermenêutica, uma Bíblia interlinear, bons comentários exegéticos e o uso de diferentes traduções.
  • Verifique se você tem os pressupostos corretos, que devem nortear nossa interpretação, como a existência de Deus, a revelação progressiva, a inspiração e a autoridade das Escrituras.
Termino com o lema de Calvino: orare et labutare. Orar, porque a Bíblia é um livro divino. Devemos orar para vencer o distanciamento moral espiritual, que às vezes impedem que cheguemos ao conhecimento verdadeiro da mensagem. E labutar, porque a Bíblia é um livro humano e foi produzida em um determinado contexto por pessoas com uma visão de mundo que já não existe mais. Por isso, devemos usar todos os recursos disponíveis para vencermos esse distanciamento.

A importância da Hermenêutica Bíblica - Parte 1

Augustus Nicodemus

É bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (Recife), mestre em Novo Testamento pela Universidade Reformada de Potchefstroom (África do Sul)

Biografia Augustus Nicodemus



O Que Estão Fazendo Com A Minha Igreja
O autor faz uma análise profunda e detalhada desta crise. Os capítulos foram divididos em blocos temáticos, nos quais ele define e discorre sobre as diversas linhas teológicas que se verificam no Brasil, inclusive as mais tradicionais.
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A importância da Hermenêutica Bíblica - Parte 1

A importância da Hermenêutica Bíblica - Parte 1
Por Augustus Nicodemus

Começarei falando da necessidade da hermenêutica bíblica. Como Osborne em seu livro A Espiral Hermenêutica, eu acredito sim que o propósito da hermenêutica é nos levar finalmente à pregação da Palavra de Deus. Contudo, antes de pregarmos, precisamos interpretar as Escrituras. Não é simplesmente abrir a Bíblia e dizer o que ela está dizendo. Nem todo mundo se apercebe do fato de que a leitura de qualquer texto sempre envolve um processo de interpretação. Ou seja, não é possível compreender um texto, qualquer que seja, sem que haja antes um processo interpretativo ― quer esse texto seja um jornal, quer seja a Revista Veja, quer seja a Bíblia. A leitura sempre envolverá um processo de interpretação ― ainda que esse processo seja inconsciente e nem sempre as pessoas estejam alertas para o fato de que um processo de compreensão está em andamento. A Bíblia é um texto. Ela é a Palavra de Deus, mas ela é um texto. Como tal, ela não foge a essa regra.


Cada vez que abrimos a Bíblia e a lemos procurando entender a mensagem de Deus para anunciá-la em nossa pregação, nos engajamos em um processo de interpretação, de maneira consciente ou não. Como Palavra de Deus, a Bíblia deve ser lida como nenhum outro livro, já que ela é única. Não há outra Palavra de Deus. No entanto, como ela foi escrita por seres humanos, deve ser interpretada como qualquer outro livro. Nesse sentido, a Bíblia se sujeita a regras gerais da hermenêutica e da interpretação, que fazem parte daquilo que é lógico e tem sentido dentro da nossa realidade. Ou seja, quando nós refletimos no fato de que a Bíblia é um texto ― sujeita a regras gerais de interpretação ―, temos um texto que está distante de nós por causa da sua idade, das línguas originais, do diferente contexto cultural. Tudo isso faz com que a leitura da Bíblia requeira um esforço consciente de interpretação. É diferente, por exemplo, de você pegar a Revista Veja ou Estadão e ler. Quando você se aproxima da Bíblia, está se aproximando de um texto antiquíssimo que foi produzido em outro contexto e em línguas, que não são faladas atualmente. Além disso, foi escrito para responder a perguntas que nem sempre são as mesmas perguntas de hoje. Daí a necessidade de interpretação de todo um processo consciente de hermenêutica.

Dessa forma, desejo falar desse fenômeno que nós chamamos de distanciamento, a partir de duas perspectivas. Primeiro, a Bíblia como um texto, como um livro, não caiu pronta do céu — embora se pensasse assim em determinada época. Ela foi escrita por pessoas diferentes, em épocas diferentes, línguas e lugares distintos. Por isso, é um texto distante de nós. Aqui é que entra o que os teóricos da hermenêutica chamam de distanciamento. No caso da Bíblia, esse distanciamento aparece em algumas áreas.

O primeiro distanciamento é o temporal. A Bíblia está distante de nós há muitos séculos. Seguindo a postura do cânon tradicional, o último livro foi escrito por volta do final do século I da Era Cristã. Para os liberais, o último livro teria sido escrito no século II, mas normalmente a data que se atribui é a do final do século I ― o que, portanto, nos separa temporalmente da Bíblia cerca de 2 milênios. Assim, não devemos pensar que um livro de 2000 anos pode ser lido como quem lê a Revista Época, em que a última edição saiu no sábado passado. Há esse fenômeno do distanciamento temporal, que precisa ser levado em consideração.

Em segundo lugar, há um distanciamento contextual. Os livros da Bíblia foram escritos para atender a determinadas situações. Várias delas já se perderam no passado. Por exemplo, o uso do véu não é um problema nosso aqui no Brasil. O ataque do próprio gnosticismo nas igrejas da Ásia Menor, o contexto de invasão do profeta Habacuque, o propósito de Marcos, a antipatia dos judeus para com os ninivitas na época de Jonas, todas essas situações distintas produziram a literatura que depois se tornou canonizada, e que nós chamamos de Escritura. Várias dessas situações nos são estranhas, não existem hoje. Dessa forma, além de ser um livro que foi escrito há 2000 anos, foi um livro escrito para atender a determinados problemas que não são os mesmos enfrentados hoje.

Em terceiro lugar, há o distanciamento cultural. O mundo que os escritores da Bíblia viveram não existe mais. Ele está em um passado distante, com suas características, sua cosmovisão, seus costumes, tradições e crenças. Nós vivemos hoje em um Brasil de tradição ocidental, influência europeia, americana e uma série de outras influências de um mundo completamente estranho àquele em que viveram os autores do Antigo Testamento e do Novo Testamento.
Em quarto lugar, temos o distanciamento linguístico. As línguas em que a Bíblia foi escrita também não mais existem. Já não se fala mais o hebraico bíblico, o grego koiné ― mesmo nos países onde a Bíblia foi escrita. Então, essas línguas já não são mais faladas ou conhecidas, a não ser através de estudo.

Em quinto lugar, nós temos o distanciamento autorial. Nós devemos ainda reconhecer que teríamos uma compreensão mais exata da mensagem se os autores da Bíblia estivessem vivos. Eu, por exemplo, gostaria de pegar o celular e ligar para Pedro e perguntar para ele o que ele quis dizer quando afirma que Jesus foi pregar aos espíritos em prisão, ou ligar para Paulo e perguntar o que ele quis dizer quando ele fala dos que se batizam pelos mortos, ou ainda o que Mateus quis dizer quando registrou a frase em que Jesus afirma que não cessariam de percorrer todas as cidades de Israel antes que viesse o Filho do homem. Eu gostaria de pegar o celular ou mandar um e-mail para os autores da Bíblia e tirar algumas dúvidas. Isso não é possível a não ser que você seja espírita e faça uma sessão de invocação de mortos.

Portanto, esse distanciamento faz com que os pregadores, antes de qualquer coisa, sejam hermeneutas. Eles têm que ser intérpretes. Eles têm que estar conscientes de que estão transmitindo o sentido de um texto antiquíssimo e distante de nós em uma realidade completamente diferente. É nesse ambiente que nós afirmamos que interpretar é tentar transpor o distanciamento em suas várias formas de chegar ao sentido original do texto ― à intenção do autor ― com o objetivo de transmitir o significado para os dias de hoje. É aqui que reside a tarefa hermenêutica.

Por outro lado, a Bíblia também é um livro divino, e esse fato faz com que também o fenômeno do distanciamento apareça. Por exemplo, o distanciamento natural: a distância entre Deus — o autor último das Escrituras — e nós é imensa. Ele é Senhor, o criador de todas as coisas no céu e na terra. Nós somos suas criaturas imitadas, finitas. A nossa condição de seres humanos impõe limites à nossa capacidade de entender e compreender as coisas de Deus, ainda que reveladas em linguagem humana. Existe um distanciamento natural entre nós e o texto bíblico pelo fato de que ele é a Palavra de Deus, é a revelação de Deus. Ele é “totalmente outro”, a alteridade de Deus. A diferença entre Deus e nós faz com que a sua revelação careça de estudo, de aproximação da maneira certa.

Além do distanciamento natural existe o distanciamento espiritual, porque somos criaturas pecadoras, caídas, e o pecado impõe limites ainda maiores à nossa capacidade de interpretação da Bíblia. É o que nós chamamos de limitações epistemológicas. O pecado afetou não somente a nossa vontade, não somente os nossos desejos, a nossa capacidade de decidir, mas também afetou a nossa capacidade de compreender as coisas de Deus. Isso explica a grande diferença de interpretação que existe entre crentes verdadeiros que estão salvos pela graça de Deus em Cristo Jesus, mas simplesmente não conseguem concordar na interpretação de determinadas passagens.

Há também o distanciamento moral, que é a distância existente entre seres pecadores e egoístas, e a pura e santa Palavra de Deus que nós pretendemos entender e pregar. Essa corrupção acabou introduzindo à interpretação da Bíblia motivações incompatíveis com ela. Por exemplo, a Bíblia já foi usada para: justificar a escravidão; provar que os judeus deveriam ser perseguidos; provar que os judeus deveriam ser defendidos; provar que os protestantes brancos são uma raça superior; executar bruxas; impedir o casamento de padres; justificar o aborto; justificar a eutanásia; justificar e promover os relacionamentos homossexuais; proibir a transfusão de sangue. O catálogo é imenso do que tem sido usado como motivação de agendas diversas e variadas.

Tudo isso evidencia que não é tão simples assim o que a maioria das pessoas pensa sobre “como” pregar a Bíblia.

A importância da Hermenêutica Bíblica - Parte 2

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Artigos

O que aconteceu com os Evangélicos?


Carta ao Reverendo Van Diesel

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A nova perspectiva sobre o Apostolo Paulo ''Obras da Lei''

A nova perspectiva sobre Paulo

Um estudo sobre as ''Obras da Lei'' em Gálatas

A nova  perspectiva sobre Paulo: um estudo sobre as ''Obras da Lei'' em Gálatas

RESUMO
Este artigo* versa sobre a maneira como Paulo tem sido interpretado em sua relação com a lei de Moisés desde a época da Reforma até o presente. O autor se detém particularmente na interpretação mais recente adiantada por estudiosos de renome, de que a igreja tem entendido erroneamente essa relação e que o judaísmo do primeiro século não era legalista, mas uma religião da graça. Paulo nunca teria combatido as obras da lei porque eram legalismo, mas sim por serem identificadores culturais de Israel, o que estabelecia uma distinção entre judeus e gentios. O autor examina as pretensões da chamada “nova perspectiva sobre Paulo” a partir do livro de Gálatas, detendo-se no exame da expressão “obras da lei”. Ele conclui que exegeticamente a “nova perspectiva” não pode apoiar-se nessa carta de Paulo e que a visão tradicional de que o apóstolo combate a salvação pelas obras da lei é a que melhor explica os textos em exame.

PALAVRAS-CHAVE
Lei; Legalismo; Judaísmo; Judeus; Fariseus; Paulo; Obras da lei; Graça; Dunn; Sanders; Gálatas.

INTRODUÇÃO
Desde o seu início, o cristianismo debate-se com uma questão crucial: qual é exatamente a posição da lei de Moisés dentro da nova dispensação da graça? Não se trata de uma discussão teológica sem valor prático. Várias alternativas práticas dependem das respostas.1

O debate tem se concentrado historicamente nas cartas de Paulo aos Romanos e aos Gálatas, e mais recentemente na expressão “obras da lei” , que ocorre oito vezes nessas cartas: duas vezes em Romanos (3.20,28) e seis vezes em Gálatas (2.16, três vezes; 3.2,5; 3.10). Em todas essas ocorrências, a expressão ocupa posição central no contexto, e é usada com uma conotação negativa. Paulo emprega-a cinco vezes para negar que a justificação pode ser obtida por intermédio da lei (Rm 3.20,28; Gl 2.16). A expressão também é usada negativamente para se referir aos que estão debaixo da maldição da lei (Gl 3.10).

Não é de admirar, portanto, que dentro da interpretação tradicional do cristianismo histórico as “obras da lei” sempre tenham sido encaradas de forma negativa e entendidas como parte da polêmica de Paulo contra o sistema judaico de salvação por obras e méritos humanos. De acordo com essa interpretação, Paulo usa a expressão “obras da lei” para se referir aos atos de obediência à lei de Moisés realizados pelos judeus da sua época, com a intenção de obter méritos diante de Deus. Paulo rejeita as “obras da lei”, em primeiro lugar, porque nunca foi propósito de Deus que a lei servisse de caminho de salvação. Em segundo lugar, porque o homem é totalmente corrompido e fraco, devido ao pecado, e, portanto, incapaz de cumprir as exigências da lei. Assim, para Paulo, ninguém pode se justificar pelas “obras da lei” simplesmente porque ninguém é capaz de fazer tudo o que a lei exige.2

1. O SURGIMENTO DA “NOVA PERSPECTIVA SOBRE PAULO”
A interpretação tradicional que por muito tempo dominou a área de estudos paulinos começou a ser contestada recentemente, de forma séria, por vários estudiosos.

Veremos a seguir os estudiosos que mais se destacaram como responsáveis pelo surgimento e difusão da “nova perspectiva sobre Paulo”. É importante lembrar que essa não é uma recensão exaustiva da história do surgimento dessa ideia, mas um mapeamento dos seus principais atores.

1.1 E. P. Sanders
Depois dos artigos de Krister Stendhal e Werner Kümmel3, a obra que possivelmente mais tem contribuído para uma mudança de perspectiva sobre o judaísmo e Paulo é o livro de E. P. Sanders, Paul and Palestinian Judaism4. Partindo de suas pesquisas em material rabínico, Sanders argumenta que o judaísmo da Palestina na época de Jesus e Paulo não era uma religião legalista, preocupada em acumular méritos diante de Deus; antes, era uma religião baseada na graça de Deus revelada nas alianças com Israel, especialmente no Sinai.

Portanto, longe de ser legalista, o fariseu da época de Jesus e de Paulo já se considerava, por nascimento, dentro da graça e da aliança. Ele não praticava as “obras da lei” de forma legalista nem para justificar-se mas simplesmente para manter-se dentro do círculo da aliança. Sanders, então, conclui que o padrão religioso do judaísmo palestino não era “legalismo”, mas “nomismo pactual” (covenantal nomism). Partindo dessas premissas, Sanders afirma em outra obra sua que o assunto discutido em Gálatas “não é se as pessoas podem acumular méritos suficientes para ser absolvidas no juízo; antes, o que se discute é a base sobre a qual os gentios podem ser incluídos no povo de Deus”5.

A tese de Sanders, em que pese a sua influência e impacto, encontrou diversos oponentes e críticos que apontaram as suas diversas e óbvias fraquezas. Primeiro, a distinção que ele faz entre “ser justificado diante de Deus” (que para ele não era a preocupação nem de Paulo nem dos judeus nem de ninguém no século I) e “entrar no povo de Deus” permanece sem uma justificativa clara e sem uma explicação sobre em que essas duas coisas são diferentes.

Segundo, Sanders manipulou as informações recolhidas das fontes rabínicas, pois omitiu as evidências de que o judaísmo palestino era de fato legalista. Terceiro, ele pressupõe que o Judaísmo da Palestina era monolítico, isto é, uma religião cujos ramos e variantes tinham a mesma opinião sobre fé, obras e o pacto – algo que simplesmente não pode ser provado. Por fim, a tese de Sanders acaba pressupondo que esse autor sabe mais sobre o judaísmo do século I do que Jesus e Paulo6. Apesar de tudo, as ideias de Sanders continuam a influenciar até hoje a área de estudos paulinos.

1.2 James Dunn
Um outro autor que tem contribuído em muito para essa “nova perspectiva sobre Paulo” é James Dunn. A sua abordagem sociológica tem recebido vasta aceitação. Para ele, Paulo ataca as “obras da lei” não porque elas expressam algum desejo de alcançar mérito por parte dos judeus, mas porque entende que elas fazem uma distinção entre os judeus, o povo de Deus da antiga dispensação, e os gentios, a quem o evangelho está sendo oferecido. As “obras da lei”, que Paulo identifica como restritas à circuncisão, às leis sobre alimentos puros e impuros (kashrut) e aos dias especiais do calendário judaico, são emblemas que caracterizam o judaísmo e devem ser rejeitadas porque enfatizam a separação entre judeus e não-judeus, a qual Cristo veio abolir7.

Os trabalhos de Sanders e Dunn, entre outros, têm influenciado de forma decisiva o debate atual acerca da perspectiva de Paulo sobre a lei. Percebe-se uma mudança na abordagem de vários estudiosos na direção de uma percepção mais positiva e menos crítica do judaísmo, dos judeus e da lei8. Como consequência, Paulo tem sido visto de forma negativa, como detentor de uma perspectiva distorcida da religião dos seus pais,9 ou mesmo como mal-intencionado em sua maneira de caricaturar e de condenar o judaísmo.10 E o que é ainda mais sério, a polêmica de Paulo contra as “obras da lei” é lançada no vácuo, já que, segundo a “nova perspectiva”, ninguém no primeiro século estava dizendo que a salvação era por obras, muito menos os judeus. Como explicar, então, o ataque consistente de Paulo contra as “obras da lei”, especialmente em Gálatas? Segundo os exegetas da “nova perspectiva”, ou Paulo entendeu mal o judaísmo da sua época (Schoeps), ou então não estamos entendendo bem Paulo (Sanders, Dunn). Ele realmente nunca foi contra as “obras da lei” como um caminho falso de salvação, como Lutero e outros reformadores disseram, e suas críticas à lei, às “obras da lei” e ao judaísmo precisam ser interpretadas de maneira diferente da tradicional.

2. AS “OBRAS DA LEI” EM GÁLATAS
A carta chave de todo esse debate é Gálatas, e é nela que veremos se a tese da “nova perspectiva” pode ser substanciada exegeticamente. Na discussão que se segue, estaremos preocupados apenas com uma questão: Por que motivo Paulo rejeita as “obras da lei”? É porque elas fazem parte do sistema legalista do judaísmo da sua época, sendo incompatíveis com a salvação pela graça, mediante a fé em Cristo (interpretação tradicional)? Ou simplesmente porque fazem distinção entre judeus e gentios (nesse caso, a interpretação tradicional estaria precisando de revisão)? Em nossa pesquisa, estaremos interagindo especialmente com as ideias de James Dunn, considerando que elas têm alcançado proeminência entre as demais linhas da “nova perspectiva”.

2.1 A identidade dos oponentes de Paulo
O significado de “obras da lei” , em Gálatas está essencialmente ligado a algumas questões introdutórias sobre a carta, especialmente o propósito dos oponentes de Paulo na Galácia. Segundo Paulo, eles pregavam “outro evangelho” com a intenção de “perverter o evangelho de Cristo” (1.6,7). Aparentemente, esses pregadores estavam minando a autoridade de Paulo como apóstolo, com o objetivo de resgatar os gálatas de debaixo da sua influência e assim ganhar-lhes a atenção (4.17).

A identidade desses oponentes de Paulo tem sido bastante debatida.11 Aparentemente eles pertenciam à facção farisaica da igreja de Jerusalém, conhecida como “os da circuncisão” (οἱ ἐκ περιτομῆς, At 11.2) devido ao seu ensino enfático sobre a necessidade da circuncisão para a salvação dos gentios (At 11.3; 15.1-5; Gl 2.1-5,11-13; 6.12-13).12 A julgar pelo que Paulo menciona, eles haviam obtido algum sucesso (1.6), pois alguns dos gálatas já estavam guardando os dias santos do calendário judaico (4.9) e outros estavam prestes a se deixar circuncidar (5.2-3). Em resumo, eles estavam abandonando o evangelho pregado por Paulo e adotando um tipo de religião judaico-cristã com fortes tendências legalistas, que requeria as “obras da lei” em acréscimo à fé em Cristo (2.16; 3.10; 4.8-11; 5.2-3).

Alguns estudiosos têm sugerido que, exigindo essas coisas, os “judaizantes” estavam tratando apenas da questão de “como se tomar um herdeiro completo de Abraão” (3.29; 4.1-7,30) ou mesmo propondo um caminho mais excelente de perfeição cristã (3.1-5). Dunn tem mesmo avançado a hipótese de que, de acordo com 2.15-16a, o judaísmo do primeiro século sabia que a salvação era pela fé e não por obras da lei e, portanto, o que estava em jogo na Galácia não era a justificação.13 Entretanto, transparece da carta aos Gálatas que, para Paulo, o que estava prestes a ocorrer com os destinatários era uma questão de vida ou morte. Se eles se submetessem às exigências daqueles pregadores, estariam abandonando o verdadeiro evangelho, renegando a graça de Deus, anulando a obra de Cristo, colocando-se debaixo da maldição da lei e decaindo da graça. Pouca dúvida resta de que, para o apóstolo, o que estava sendo ameaçado era o próprio conceito de justificação. É esse o assunto que o preocupa, mesmo quando aborda a questão da herança de Abraão, incluindo a promessa do Espírito (3.6-9, 29; 3.26 com 4.5-7; 3.4; 3.1-2 com 4.6; Ef 1.13).

2.2 O sentido de “lei” em Gálatas
Esse ponto torna-se ainda mais claro quando observamos em que sentido Paulo usa a palavra “lei” , em sua argumentação contra a mensagem dos seus opositores. Na maioria das 30 vezes em que a usa em Gálatas, ele se refere à lei de Moisés e, dentre essas, 16 vezes a referência é claramente à lei de Moisés como um todo (2.16,19,21; 3.2,5,10,13,17-19; 4.21a; 5.3-4,18; 6.13) e quatro vezes à administração sinaítica do Antigo Testamento (3.23-25; 4.4; 5.14).14 É seguro concluir que Paulo usa o termo “lei” em Gálatas principalmente para referir-se ao corpo de regulamentos dados por Deus a Israel mediante Moisés no Sinai, e como tal ela é abordada pelo apóstolo nessa carta, não em sua função social e nacional como emblema do judaísmo, mas como o conjunto de requisitos legais de Deus em relação aos judeus, os quais os oponentes de Paulo queriam impor aos gentios. Notemos que Paulo menciona a lei apenas no que se refere à relação do homem com Deus (teológica), não quanto à identidade nacional de um povo (sociológica). Assim, é evidente pela forma como Paulo usa , que a expressão “obras da lei” refere-se às obras realizadas em obediência à lei com propósito salvífico.15

É possível que Dunn esteja certo ao afirmar que Paulo, em Gálatas 2.16, tem em mente apenas os preceitos da lei enfatizados pelos seus oponentes, não a lei como um todo. O que estaria em discussão era principalmente a circuncisão (2.3) e as leis cerimoniais de alimentos puros e impuros (2.12). Dunn observa corretamente, em minha opinião, que estes dois preceitos da lei, juntamente com a observância dos dias especiais do calendário judaico (principalmente o sábado), eram as principais características do judaísmo do período do segundo templo, os “emblemas” da religião judaica. Em outras palavras, se perguntassem a qualquer pessoa do primeiro século o que era um judeu, a resposta provavelmente incluiria a menção de todos ou de alguns desses elementos. Não é de admirar, portanto, que os adversários de Paulo estivessem insistindo nesses pontos em sua catequese dos crentes gentílicos da Galácia.

2.3 O sentido de “obras da lei”
Embora essa sugestão de Dunn seja atraente, é mais provável que Paulo esteja usando a expressão “obras da lei” num sentido mais amplo em 2.16, como uma conclusão generalizada. Longenecker, que prefere essa possibilidade, acha que Paulo usa “obras da lei” para sinalizar “todo o complexo legalista de ideias relacionadas com o adquirir do favor divino pelo acúmulo de méritos mediante a observância da Torá”16.

Essa interpretação mais ampla de “obras da lei” em 2.16 é confirmada em 3.10: “Todos quantos são das obras da lei estão debaixo de maldição, porque está escrito: ‘Maldito todo o que não permanece em todas as coisas escritas no livro da lei para fazê-las’”. Ser das “obras da lei” implica em cumprir toda a lei – e isto representa mais que os mandamentos sobre circuncisão, alimentos e dias santos.

Algumas versões na língua inglesa introduziram em 3.10 a palavra “confiam” antes de “obras da lei” (“malditos os que confiam nas obras da lei”), refletindo o sentido óbvio do pensamento de Paulo (NIV, RSV; ver também Phillips). Mas nem todos estão satisfeitos com essa interpretação. Dunn, de forma característica, entende que os que são das “obras da lei” não são necessariamente os legalistas, mas “todos os que restringem a graça e a promessa de Deus sob aspectos nacionalistas”.17 Outros, como Braswell, tomam a expressão num sentido bem mais amplo, como uma referência aos judeus em geral, visto que, para Paulo, eles eram o único povo debaixo da lei de Moisés.18 Essa ideia, entretanto, minimiza a força da expressão “todos quantos” , que aponta para os que são das “obras da lei” como um grupo específico, em contraste com os que são “da fé&rdquo, no v. 9. Portanto, a referência em 3.10 não pode ser aos judeus como um todo, mas aos que dentre eles confiavam numa observância legalista da lei como caminho para a vida.19

Podemos ainda apelar para outro argumento, que fortalece a interpretação tradicional. A citação de Paulo nesse versículo (3.10) é de Deuteronômio 27.26. Paulo segue aqui a Septuaginta, que adiciona ao texto hebraico original “todo o homem” e “todas” antes de “as coisas escritas no livro da lei”.20 Por que Paulo preferiu seguir a Septuaginta nessa citação e não o Texto Massorético? Provavelmente porque a Septuaginta, ao expandir o texto hebraico durante a tradução, dando-lhe uma ênfase mais universal e qualificando a lei como um conjunto de requisitos, serve melhor ao argumento do apóstolo a esta altura. A citação deliberada da Septuaginta, nesse contexto, é mais uma indicação de que, para Paulo, “os que são das obras da lei” eram os que confiavam na obediência à lei de Moisés como o caminho para obter o favor divino.

2.4 “Obras da lei” em contraste
Abordemos o assunto de outra perspectiva. Devido ao caráter polêmico da epístola, Paulo sempre contrasta a expressão “obras da lei” com outras expressões, o que indiretamente nos fornece indicações do seu significado para o apóstolo. Em 2.16, por exemplo, Paulo duas vezes coloca “obras da lei” em paralelismo antitético com “fé em Cristo Jesus” O sentido exato dessa expressão tem sido amplamente debatido em vista da sua sintaxe ambígua. Trata-se de um genitivo subjetivo ou objetivo? A maioria dos exegetas tem optado por um genitivo objetivo, “fé em Jesus Cristo”.21 Entretanto, reconhecemos que mesmo a tradução “fé de Cristo Jesus” não alteraria de forma significativa o argumento de Paulo, quando contrasta a expressão com “obras da lei”. A questão permanece a mesma: não é por praticar as obras requeridas pela lei que alguém é salvo, mas pela dependência de Deus e de Jesus Cristo como Salvador.

Tal contraste entre obras e fé, que também aparece em outros escritos de Paulo (ver Rm 2.20,28; 3.8,24; 4.5; 5.1; Ef 2.8-12; 3.2; Fp 3.9), em Gálatas faz parte do contraste maior que Paulo está fazendo entre a mensagem dos seus adversários e o evangelho genuíno que ele prega. Esse contraste é apresentado de várias formas: carne e Espírito (3.2,5; 5.18-25), Agar e Sara (4.21-31), a aliança feita mediante Moisés e a promessa feita a Abraão (3.15-22). Em todos esses casos, temos a impressão de que Paulo está estabelecendo claramente a diferença fundamental entre as duas mensagens: a tentativa de merecer a absolvição divina pela acumulação de méritos em contraste com a recepção simples dessa absolvição mediante a fé em Cristo Jesus. Como parte desse contraste abrangente, as “obras da lei” são entendidas como uma execução legalista dos requisitos da lei de Moisés.

Outra expressão usada por Paulo em contraste com “obras da lei” é “ouvir com fé duas vezes em 3.1-5). Nessa passagem, Paulo argumenta com os gálatas, com base na experiência dos mesmos no passado e no presente, que a recepção do Espírito e a sua atuação poderosa entre eles decorriam não das “obras da lei”, mas do “ouvir com fé” (3.2,5). A expressão ἐξ ἀκοῆς πίστεως também não é fácil de traduzir, porque mais uma vez temos um genitivo que pode ser tanto subjetivo quanto objetivo e duas palavras que podem comportar várias traduções diferentes (embora relacionadas), ἀκοῆς e πίστεως. Entretanto, independentemente da tradução adotada, o argumento de Paulo permanece invariável. Em última análise, o contraste entre “obras da lei” e “ouvir com fé”, conforme Hays afirma, estabelece ambas como alternativas mutuamente excludentes, que destacam a diferença e a justaposição entre a atividade humana e a atividade divina.22

Em 3.9-10, Paulo coloca “os que são das obras da lei” em correspondência antitética com os que são “da fé” . Essa passagem pertence ao argumento final de Paulo de que Abraão foi justificado pela fé e de que Deus prometeu abençoar todas as nações em sua descendência (3.6-8). Os que são (v. 9) são abençoados com o crente Abraão, ao passo que os que são ἐξ ἔργων νόμου são malditos pela lei. Se pudermos ler aqui o argumento de Paulo em 3.16-18, o contraste entre esses dois grupos toma-se mais claro.23 Os que são “da fé” são justificados como Abraão, sem as “obras da lei”. No caso de Abraão, a lei não havia sido dada ainda. O outro grupo, os das “obras da lei”, justificam-se pela lei de Moisés, que veio 430 anos após Abraão. O contraste é soteriológico. As “obras da lei” aqui, bem como em toda a carta, referem-se a obras realizadas em obediência à lei de Moisés com propósito meritório.

Praticar as “obras da lei” em 2.16 tem ainda um paralelo em 2.21, a “justiça mediante a lei”, que Paulo coloca em irreconciliável oposição aos efeitos da morte de Cristo. O contexto e a semelhança das duas expressões autorizam-nos a estabelecer o paralelo. O resultado é que praticar as “obras da lei”, por inferência, é incompatível com os propósitos da morte de Cristo. Para que a justaposição no v. 21 entre a morte de Cristo e a justiça mediante a lei seja válida, é necessário que esta última seja entendida como atividade humana, padronizada pela lei, desde que a morte de Cristo, como Paulo geralmente indica, é resultado da iniciativa e da atividade de Deus com o objetivo de salvar pecadores (Gl 4.4-5; Ef 1.7-8; Cl 1.19-20; Rm 3.25-26).

CONCLUSÃO
Esperamos que nossa rápida pesquisa tenha demonstrado que o ataque de Paulo às “obras da lei” em Gálatas faz parte da sua polêmica mais geral contra o sistema legalista e inadequado do judaísmo palestino como uma religião de méritos e em direta oposição ao evangelho da graça revelado em Cristo, conforme tradicionalmente se vem afirmando. Embora a ênfase de Dunn na função sociológica da lei nos desafie a ampliar nossa interpretação e incluir também este aspecto na polêmica de Paulo contra as “obras da lei” em Gálatas, sua tese fundamental, bem como muitas teses da “nova perspectiva” sobre o judaísmo e Paulo, não pode ser aceita senão mediante severas restrições e qualificações. Portanto, desde que não conseguimos ser convencidos por elas, resta-nos permanecer com a interpretação tradicional, que, mesmo parecendo antiquada e indefensável para muitos, continua refletindo mais exatamente a intenção de Paulo ao afirmar que a salvação é pela fé, sem as “obras da lei”.

A “nova perspectiva” sobre Paulo continua a influenciar grandemente os estudos paulinos. Inclusive estudiosos evangélicos têm abraçado alguns de seus postulados, embora não cheguem ao ponto de considerar Paulo como equivocado ou inconsistente. Partindo da nossa investigação acima, podemos oferecer uma crítica abordando pelo menos dois pontos.

Primeiro, a “nova perspectiva” acaba atacando a autoridade das Escrituras. Na verdade, é uma “velha perspectiva” sobre as Escrituras. Ela acaba por presumir com relação ao Novo Testamento o mesmo ceticismo histórico que tem marcado os estudos críticos modernos. Ou seja, os escritos do Novo Testamento devem ser tratados como qualquer outro livro de religião, e seus escritores como os demais autores humanos. Admite-se a priori que poderiam ter cometido erros históricos, passado informações falsas e caído em frequentes contradições. Nem todos os que aceitam algumas das ideias da “nova perspectiva” são necessariamente liberais em sua maneira de tratar as Escrituras. Ao fim, porém, temos de escolher entre o quadro que elas nos dão do judaísmo e dos fariseus do século I e aquele reconstruído por Sanders e demais estudiosos que o seguem.

Segundo, a “nova perspectiva” deixa os opositores de Jesus e Paulo sem identificação. Embora o trabalho de demolição feito pelos críticos da “nova perspectiva” seja bem apresentado e desenvolvido, pouco ou nada tem sido erguido sobre as ruínas. A reconstrução que fazem de Jesus, de Paulo e do judaísmo daquela época acaba não convencendo ninguém a não ser os seus proponentes. Não há unanimidade entre eles, por sinal. James Dunn criticou duramente o Jesus reconstruído por Sanders.

Augustus Nicodemus

É bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (Recife), mestre em Novo Testamento pela Universidade Reformada de Potchefstroom (África do Sul)

Biografia Augustus Nicodemus



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fonte/http://www.vidanova.com.br/

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