Já se foi o tempo em que havia um sexo frágil. Nesta era da modernidade, homens e mulheres, meninos e meninas, rapazes e moças estão cada vez mais parecidos em termos comportamentais. E o pior é que as garotas estão reproduzindo atitudes antes restritas ao universo dos rapazes, como a agressividade, a impetuosidade sexual e o abuso no uso do álcool. Por isso mesmo, especialistas como o pastor e educador cristão James Dobson andam preocupados. Tendo dedicado sua vida à família – não apenas à sua própria, mas no sentido mais amplo do termo, a ponto de fazer disso seu ministério –, ele tem muito o que ensinar. E a aprender, também. Tanto, que se diz cada vez mais surpreso com o comportamento das garotas. "Em idade escolar, muitas já usam roupas provocantes, colocam piercings e se envolvem com álcool e drogas", diz. Basta olhar à volta para perceber como tem razão.
Depois de três décadas na liderança do ministério multinacional Focus on the Family, Dobson agora lidera Family Talk ("Conversa de família"), cuja proposta é justamente ajudar os pais a entender o universo em ebulição em que seus filhos – e, mais ainda, suas filhas – vivem. A quem fala em rivalidade, ele, apressa-se em dizer que a demanda é tão grande que comporta o trabalho de muitos ministérios. "Há muito trabalho a ser feito", resume. Dobson falou com Christianity Today sobre seu ponto de vista para a formação da próxima geração de mulheres e acerca da sua saída da Focus on the Family.
CHRISTIANITY TODAY – O senhor educou sua filha há 30 anos. De lá para cá, a família e a sociedade mudaram muito. Os princípios daquele tempo ainda têm validade hoje?
JAMES DOBSON – É surpreendente que, se voltarmos 40 anos, ao tempo quando escrevi Dare to discipline [Ousar disciplinar], e analisarmos aqueles princípios hoje, veremos que ainda estão em voga. O livro saiu em 1970, ainda durante a Guerra do Vietnã, em meio a uma cultura de rebeldia – mas os princípios da educação infantil. Eu não mudei as minhas convicções, porque elas mantêm raízes em princípios morais e nas Escrituras, de modo que são eternas. Não quero dizer que detenho a verdade de Deus; mas elejo minhas ideias e princípios a partir desse fundamento.
O surgimento do feminismo tornou mais difícil a educação das meninas para os pais?
Nunca houve um momento em que foi fácil criar os filhos, mas hoje é mais difícil. As meninas de hoje são muito experientes se as compararmos com a geração de suas avós. A cultura mudou totalmente. As meninas estão crescendo muito rápido. As influências exercidas pela indústria da moda e do entretenimento são muito grandes. Recentemente, um fabricante de roupas lançou biquínis com sutiãs acolchoados para meninas com 7 anos de idade. Em idade escolar, muitas já usam roupas provocantes, colocam piercings e se envolvem com álcool e drogas. Elas já igualam os meninos no consumo exagerado do álcool e há um nível elevado de violência entre elas. Isso as impulsiona muito cedo para uma experiência adolescente e as induz a pensar sobre sexualidade em idade precoce, criando uma enorme pressão.
Em seu livro, o senhor escreve sobre mulheres famosas que dizem lutar com a autoestima. No entanto, estamos em uma cultura que também promove material de autoajuda. Como estimular alguém a manter a autoestima elevada sem resvalar no narcisismo?
Minha preocupação é o modelo que a indústria do entretenimento impõe. Vivemos em um sistema de valor que mede o ser humano a partir da beleza. Meninas em sua adolescência, no ensino médio, estão atravessando a puberdade, e essa fase traz naturalmente acnes e corpos desengonçados. Mas elas olham para modelos como Britney Spears, Paris Hilton e Lindsay Lohan. Se ousarem estar um pouco acima do peso – não muito, mas apenas levemente acima –, ouvem falar disso o dia todo. Isso entristece o coração e a dignidade de uma garota que só quer ser uma princesa e ser amada por alguém. Se o pai não está envolvido com esta situação, se ele não a aceita, não a ama, não diz que ela é bonita e não põe o braço em torno dela, se não lhe dá atenção, muitas vezes ela olha para outro lado. A única coisa que terá a oferecer é a sua sexualidade e pensará que, usando-a como forma de atração, será amada.
Existem estereótipos nocivos e que não deveriam ser reforçados?
Sim. Nos últimos anos – e talvez isto seja um produto do movimento feminista –, as meninas têm sentido a necessidade de imitar os meninos, mesmo os meninos predadores. Eles são resistentes, grosseiros, brutos, profanos e sexualmente agressivos. Muitas vezes, as garotas são as únicas a tomar a iniciativa em direção aos meninos, o que tira a necessidade destes de serem os iniciadores. Tal característica tem extrapolado esse movimento relacionado com alguns ideais feministas que são prejudiciais às meninas. Elas são mais vulneráveis, se ferem mais facilmente e são sensíveis de muitas maneiras. Por isso, é tão importante que os pais orientem suas filhas, construindo a compreensão de sua identidade e ajudando-as a lidar com a cultura.
Como sugere que os pais lidem com as atividades de seus filhos em sites de relacionamento como o Facebook e o Twitter?
Os pais têm que conhecer a tecnologia que seus filhos estão usando. A pornografia está generalizada e os pais precisam acompanhar os processos virtuais que a trazem para dentro de casa, e assim proteger seus filhos. Essa é uma tarefa difícil, porque as crianças estão à frente deles. Os pais, muitas vezes, têm carreiras extremamente exigentes e, quando chegam em casa, não possuem mais nada a oferecer. É por isso que digo que a cultura, muitas vezes, nos leva para o inferno.
Se sua filha mostrasse dons de liderança e de ministério, o senhor a incentivaria?
Gostaria de incentivá-la a usar todos os dons que Deus lhe dá. Você pode tirar a conclusão – a qual eu não defendo em meu livro – de que as mulheres precisam estar presas a um papel restrito, que não podem ser criativas e não podem ser líderes. Isso é ridículo. Mas é importante que as meninas saibam o que significa ser uma mulher. Homens e mulheres são únicos e diferentes, porque seus cérebros são diferentes. Não existe uma limitação para as meninas. Minha avó era muito forte, e assim também foi minha mãe. Mas elas também sabiam o que significava ser uma mulher e uma esposa, e foram muito bem sucedidas nisso.
O que o senhor vê como a próxima área de tensão entre homens e mulheres em nossa cultura?
Acho que será mais do mesmo. Infelizmente, isso provavelmente significa a contínua deterioração da família. Quando a família está em desordem, as crianças sofrem. Haverá provavelmente mais divórcios, mais mães e pais solteiros. Não estamos caminhando em uma direção saudável. Nossa cultura está se movendo em direção a uma maior expressão sexual. É claro que a internet, com sua pornografia e suas influências, ficará muito difícil de controlar. Precisamos de oração e de dedicação aos filhos para ajudá-los a passar por tudo isso.
Depois de tanto tempo, o senhor estava pronto para sair de Focus on the Family?
Sim e não. Fiquei lá por 33 anos. Eu era o fundador, o diretor, o presidente… Enfim, coloquei minha vida naquele ministério. Passamos de uma sala com um secretário de meio expediente em 1977 para uma entidade com 1,4 mil funcionários e um ministério internacional que alcançava 220 milhões de pessoas todos os dias. É difícil afastar-se de algo assim. Mas, tudo tem uma vida útil, e tudo chega ao fim. Fundadores e presidentes geralmente permanecem em seus postos até morrer em suas cadeiras porque pensam que a geração mais jovem não tem o preparo necessário. Em 2001, senti que o Senhor queria que eu deixasse de ser presidente. Foi algo difícil de fazer, mas eu sabia que a sua mão estava me sustentado. Chorei por três ou quatro semanas e, no último dia, chorei o tempo todo. As pessoas eram muito boas conosco, mas era hora de ir. Estou com saúde, tenho muita energia e ainda muito o que dizer.
E o que o senhor está fazendo agora?
Iniciamos este novo ministério, chamado Family Talk ["Conversa de família"], o qual está crescendo muito. É como se eu tivesse voltado a 1977 e começado de novo! Há quem pense que há uma competição entre este trabalho e o de Focus. É uma bobagem pensar que as famílias em todo o país e no mundo, com todos os seus problemas, necessitam apenas de um ministério. Há muito trabalho a ser feito. Nossa competição não é maior do que a de duas igrejas batistas em Atlanta. Não estamos tentando machucar uns aos outros, ferir uns aos outros, ou passar por cima uns dos outros. Isso não deve acontecer.
Que legado James Dobson está deixando?
Meu legado não importa. Não me importa que eu seja lembrado. É importante que, quando eu estiver diante do Senhor, ele me diga: "Muito bem, servo bom e fiel". Eu quero terminar forte. Não quero cometer um erro que possa prejudicar a causa de Cristo no final de minha vida. Assim, farei tudo o que puder para trazer muitos para Cristo. Se Ele puder me usar nesse sentido, este sim, será meu maior legado.
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Traduzido por Joanna Brandão
Fonte: Cristianismo Hoje
Postado por: Felipe Pinheiro
Via: www.guiame.com.br
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