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O Pastor como Pastor de Ovelhas
Um pastor de ovelhas é a metáfora mais adequada ao conceito bíblico de pastor. A sociedade considera o pastor um profissional – e o faz com propriedade. Entretanto, algo novo e simples é restabelecido, quando os pastores se vêem como pastores do rebanho que Deus colocou sob os seus cuidados. O rebanho pertence a Deus. Cada pastor prestará contas a Ele por sua guarda do rebanho. O apóstolo Pedro adverte contra o assenhorear-se do rebanho ou aceitar a liderança por razões monetárias (1 Pe 5.2). É significativo que Jesus tenha escolhido o exemplo do pastor de ovelhas para descrever sua relação conosco (Jo 10.11,14): o pastor protege, conforta e alimenta o rebanho.
Uma chamada Humilde
Quando Jesus se referiu a si como pastor de ovelhas, falou de um cargo humilde e servil. Quando ordenou que Pedro apascentasse suas ovelhas, estava pedindo que o apóstolo aceitasse uma função vista como desdém e derrisão na cultura do primeiro século. Não se tratava de uma chamada à proeminência pública ou ao luxo. Não era uma chamada ao prestígio e respeito. Era uma chamada para viver com ovelhas e bodes. Pedro não esqueceu do significado dessa chamada e a isso se referiu em 1 Pedro 5. Ele sabia que as implicações dessa função exigiam a incumbência de servir com boa vontade, não “por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho” (1 Pe 5.2,3).
Depois do exílio, os rabinos farisaicos propiciaram grande desvalorização ao papel do pastor de ovelhas. Eles proibiram os judeus piedosos de comprar lã, leite ou carne dos pastores de ovelhas. Por terem uma renda pequena, suspeitava-se que muitos pastores de ovelhas roubavam e eram desonestos. Foram-lhes tirados privilégios cívicos. A literatura da época afirma: “Nenhuma profissão do mundo é tão menosprezada quanto à do pastor de ovelhas” (Midrash sobre o Salmo 23). Os pastores de ovelhas, como os coletores de impostos, foram tratados com desprezo pelo público.
Jesus se referiu a si mesmo como o “bom pastor”, distinguindo os pastores bons dos maus. Sempre haverá pastores maus. Sempre haverá pastores que não viverão de acordo com a suprema e santa chamada ministerial. Aqueles que são bons e fiéis em sua mordomia como pastor não devem se deixar desanimar pelos maus. Ao invés disso, devem se colocar em nítido contraste com os que não são fiéis.
Da mesma forma que Cristo “aniquilou-se a si mesmo” (Fp 2.7), o pastor não deve tomar decisões ou preparar mensagens no mero esforço de realçar sua reputação. Os pastores devem ser fiéis à Palavra e obedientes à humilde chamada que receberam do Senhor. Não se exige confiança de uma congregação. Os pastores de ovelhas ganham a confiança dos rebanhos à medida que as ovelhas aprendem que estão seguras quando o pastor está presente. Através da obediência fiel à chamada, os pastores ganharão a confiança da congregação. Jesus não exigiu o conforto ou respeito que legalmente lhe era devido. Ele, de boa vontade, apanhou uma toalha para servir os mesmo discípulos que deveriam tê-lo servido. Não foi por acidente que seu nascimento foi anunciado a pastores e aconteceu num estábulo. Aqueles que servem como subpastores não devem exigir mais do que o Sumo Pastor deixou como exemplo.
Satisfazendo as Necessidades
O comentário de abertura do Salmo 23, escrito pelo rei Davi, é notável: “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará”. O papel do pastor de ovelhas é tomar conta das necessidades do rebanho. As ovelhas são muito incapazes, dependentes do pastor. Ele tem te reconhecer as necessidades delas: água, pasto, descanso, proteção, salvamento, bálsamo curativo ou ajuda para dar à luz. As igrejas de crescimento mais rápido têm pastores que são impulsionados a satisfazer as necessidades da congregação. As pessoas de nossas cidades são muito menos leais à afiliação sectária ou a programas lançados para dar crescimento. Muitas pesquisas indicam que as pessoas escolhem uma igreja como base na possibilidade de que suas necessidades e as necessidades da família sejam satisfeitas naquela congregação.
Esse não é um princípio novo ao crescimento. É tão básico quanto entender que a ovelha que tem necessidades não estará contente e não permanecerá jovem. O pastor eficaz compreende que as necessidades de sua cidade podem variar amplamente das de uma cidade vizinha. Simplesmente copiar o formato de culto
e os métodos de alcançar os perdidos vigentes em uma igreja crescente pode não dar certo em outra. Cidades com populações étnicas diversas representam necessidades únicas. Igrejas adjacentes a grandes faculdades e universidades com muitos jovens e solteiros têm necessidades muito diferentes daquelas localizadas em cenários rurais predominantemente agrícolas. Uma igreja situada perto de grandes fábricas e complexos industriais apresentará necessidades diferentes das da comunidade suburbana povoada por pessoas que diariamente fazem a viagem entre o lar e o trabalho. Uma igreja com muitos casais jovens precisará de instalações adequadas e atividades próprias para crianças.
As necessidades das ovelhas mudam conforme as estações. O calor do verão traz parasitas e a necessidade de sombra e água. O inverno e as estações chuvosas acarretam a necessidade de abrigo. O período em que as ovelhas dão à luz limita as distâncias que o rebanho pode viajar com as crias. O pastor sábio será cuidadoso em fazer planos de acordo com as necessidades variáveis da congregação. As pessoas tendem a ficar inquietas quando estão em necessidade. A estabilidade é um dos resultados advindos de uma congregação satisfeita.
Fazendo as Ovelhas se Deitarem
“Deitar-me faz em verdes pastos” (Sl 23.2). O pastor não bate nas ovelhas para que sejam submissas e se deitem. Ele sabe do que o rebanho precisa para estar contente, relaxar e se deitar. Por isso, ele cria o ambiente propício para que as ovelhas se deitem.
Quatro exigências devem ser satisfeitas antes que as ovelhas se deitem.
1) As ovelhas não se deitarão se estiverem com medo.
2) Não se deitarão se houver atrito ou tumulto no meio do rebanho.
3) Não se deitarão se estiverem com fome.
4) Não se deitarão quando se acham atormentadas por moscas ou parasitas.
O pastor tem de saber e entender as necessidades e limitações do rebanho. Tem de reconhecer as estratégias do inimigo e prover uma defesa para a congregação. É ele o responsável por preservar a harmonia dentro da congregação. Seu dever é fornecer uma dieta de ensinamentos adequados para manter a congregação forte e saudável. Quando Jesus viu a multidão, “teve grande compaixão deles, porque andavam desgarrados e errantes como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9.36). Os membros da congregação que sejam indefesos ou tenham sido hostilizados têm de encontrar compaixão no pastor. Suas situações difíceis não devem ser tratadas com indiferença ou falta de preocupação.
O pastor de uma grande e próspera congregação observa: “É importante prover esperança e conforto para aqueles que se congregam no domingo. Muitos deles chegam à igreja, seriamente contundidos pelas lutas da semana. A menos que encontrem cura e forças na casa de Deus, por que iriam querer voltar?” Não causa surpresa que a congregação a que ele serve seja uma igreja que cresce.
Implícito nos ensinamentos de Jesus sobre o bom Pastor está a conjectura de que o pastor está próximo das ovelhas. Ele não se distancia delas ou das suas necessidades. Ele as conhece bem. Ele está perto o bastante para notar o lobo que circula o rebanho atemorizado. A voz do pastor acalma as ovelhas. O pastor contemporâneo tem de manter um equilíbrio sutil entre passar tempo suficiente com os membros da congregação, a fim de conhecer suas necessidades, e passar tempo suficiente com a Palavra e na oração, a fim de obter os recursos para atender tais necessidades. Tal equilíbrio ajuda a criar circunstâncias que propiciam as ovelhas a se deitarem.
Protegendo as Ovelhas
Proteger as ovelhas pode custar caro ao pastor. O que separa os pastores bons dos irresponsáveis é a maneira como reagem quando o rebanho está sob ameaça. O pastor bom é abnegado e, correndo grande perigo pessoal, protegerá e defenderá o rebanho, chegando até ao ponto de entregar a própria vida. Tal coragem é o resultado de um relacionamento incomparável entre o pastor e as ovelhas. É muito mais do que relação entre empregado e empregador. Depois de passar tanto tempo com os membros da congregação, o pastor estima cada pessoa individualmente. Em cada uma ele tem um investimento: um investimento de oração, de ensino, de pregação, de aconselhamento e de apoio. Isso o faz alegrar-se com as vitórias e chorar nas derrotas de cada membro em particular.
Esse extraordinário valor individual da ovelha é ilustrado na narrativa de Jesus do pastor que deixa as 99 para buscar a ovelha perdida (Mt 18.12). É raro que uma ovelha perdida encontre o caminho de volta ao redil. É mais provável que fique parada e balindo por socorro. Um cordeiro nessa situação é, presa fácil do predador. Muitas pessoas que deixam de ir à igreja são como um cordeiro perdido. Raramente encontram por si mesmas o caminho de volta à congregação. São vulneráveis, estão amedrontadas e sós. Sua salvação muitas vezes depende do valor que o pastor lhes dá e até onde ele está disposto a ir para salvá-las.
Semelhante aos pastores de ovelhas, alguns pastores se comportam como mercenários. Não têm nenhum interesse pessoal no bem-estar do rebanho. Servem pelo salário e ganho pessoal. A proteção, o crescimento e o conforto do rebanho são preocupações incidentais para eles. Fazem tudo o que é exigido e necessário somente para receber pagamento, exceto quando o custo pessoal é grande demais. Fogem quando a responsabilidade fica muito elevada. Sacrificarão um ou mais cordeiros para se salvar.
Os pastores estão na melhor posição para proteger o rebanho. Na analogia do pastor de ovelhas (Jo 10.1-18), Jesus nos lembra de que o inimigo atacará as ovelhas. É interessante observar que Jesus disse que o pastor pode ver o agressor se aproximando. Nesse ponto, é freqüente as ovelhas não terem consciência do perigo. No momento em que o percebem, já é tarde demais para se salvarem. Esse é o momento em que a escolha de abandonar o rebanho e não assumir o compromisso pessoal necessário para defendê-lo pode ser opção tentadora. O pastor que ama a congregação não apenas fica para defendê-la em tempos de perigo, mas também não a torna assunto de chacota e desprezo em conversas. O bom pastor se deleita pessoalmente no sucesso e crescimento do rebanho. Ele vê o bem em potencial em cada cordeiro.
Encontrando Água
Sabe-se que ovelhas com sede põem-se em debandada em direção à água. Mas água pútrida ou contaminada pode ser fatal às ovelhas. Às vezes, o pastor conduz um rebanho sedento por um caminho mais extenso, a fim de evitar o risco de as ovelhas correrem em disparada para uma lagoa poluída e mitigarem a sede com toxinas que podem levar à morte.
Congregações sequiosas são susceptíveis ao engodo de águas poluídas. A última novidade doutrinária não é tão atraente a uma congregação bem nutrida quanto o é a uma sedenta. É responsabilidade do pastor, saber do estado da água das redondezas do rebanho. O pastor tem de conhecer as armadilhas doutrinárias que cercam a congregação; tem de conduzir o rebanho para longe delas. É trabalho tedioso. Requer estudo, um firme comprometimento com as Escrituras e um sólido apego à teologia.
Antigamente, os pastores de ovelhas cavavam poços em regiões áridas ou em lugares onde não houvesse água potável. Faziam isso antecipando as necessidades do rebanho. Era algo que as ovelhas não podiam fazer por si mesmas. O trabalho tedioso da preparação do sermão é algo semelhante. O pastor antecipa as necessidades dos membros da congregação e faz o que não podem fazer. Ele cava na verdade da Palavra de Deus e disponibiliza água fresca para as ovelhas.
Davi usou ilustração interessante no Salmo 27, quando descreveu o cuidado dispensado no “dia da adversidade”. No versículo 5, o salmista alude que será posto “sobre uma rocha”. Sem dúvida, trata-se de referência à ação do pastor de ovelhas, quando observa uma serpente se movimentando em direção a um cordeiro indefeso. Sabendo que o cordeiro é incapaz de esmagar a serpente, o pastor apanha o cordeiro e o coloca em cima de uma pedra ali perto, fora do alcance da serpente. O pastor então se volta para enfrentar o réptil. Enquanto o cordeiro fica observando de sua posição segura de cima da pedra, o pastor matar a cobra. A batalha que era para ser do cordeiro tornar-se do pastor; a vitória que era para ser do pastor torna-se do cordeiro. O resultado para o cordeiro está descrito no versículo 6: “Também a minha cabeça ser exaltada sobre os meus inimigos que estão ao redor de mim”. O pastor freqüentemente desempenha esse papel. Ele toma a iniciativa e luta contra o inimigo dos membros de sua congregação. Não é porque ele pessoalmente tenha sido atacado ou esteja sob ameaça. É porque aqueles que foram confiados aos seus cuidados estão sob ameaça.
Tanger o Rebanho não É Guiar
Davi observou que, como fazem os pastores de ovelhas, o Senhor guia o seu povo (Sl 23.2,3). O pastor é mais do que o líder corporativo da congregação. Assim como o pastor de ovelhas, ele determina a direção e o passo da jornada. Precisa estar focalizado em algum objetivo. O pastor tem de saber em que ponto a congregação está e a direção que deve tomar. Tem de saber onde está o perigo e conduzir a congregação para longe. Tem de saber onde há água fresca e planejar um itinerário que leve o rebanho a lugares de refrigério. Tem de conhecer a capacidade e a maturidade da congregação e cuidadosamente projetar a sua jornada espiritual. Mais do que qualquer pessoa na congregação, o pastor é o responsável em estabelecer o programa de trabalho, descrever as metas e apresentar uma visão para a congregação seguir.
As ovelhas são seguidoras. Ficam satisfeitas em saber que o pastor as precedeu no caminho e sabe para onde está indo: os perigos foram descobertos. O caminho está limpo de serpentes. O trajeto está seguro. Água potável está dentro do alcance. Pasto adequado está perto. Um bom pastor de ovelhas não tange ou toca as ovelhas estando na retaguarda do rebanho. Quando tocado, o rebanho pode mostrar frustração e confusão. O rebanho tangido reage ao medo de retaliação. As ovelhas são pressionadas a ir em certa direção ou sofrem conseqüências desagradáveis. O consenso é bom, mas é melhor quando é o resultado de sugestões e opções apresentadas por um líder de acordo com a direção do Espírito Santo. O sermão que censura e deprecia a congregação que erra assemelha-se a tanger mais do que a guiar.
Pelo Vale
Todo pastor de ovelhas sabe que o caminho nem sempre será fácil. Alguns dias serão repletos da luz do sol e de verdes pastos. Outros serão cheios de escuridão e trilhas que serpenteiam terrenos acidentados. Não é diferente para o pastor. Há semanas repletas de alegrias de nascimentos, casamentos, conversões, curas e batismos. Enquanto a congregação deixa o santuário, os elogios ao sermão parecem nunca terminar. As ofertas estão acima do orçamento, e os visitantes são abundantes. O crescimento parece não ter fim. Outras semanas cheias de incidentes, problemas matrimoniais, molestamento de esposas e vícios. Parece que as ofertas são as menores quando as necessidades são maiores. O pastor não consegue, durante o sermão de domingo, descarregar os fardos que lhe foram despejados. Ele tem de levá-los ao Senhor e ficar animado ao saber que Ele sempre estava presente nos tempos de necessidade e que as pessoas confiavam a Ele suas experiências difíceis. Jesus lembrou os discípulos que não são os sadios que necessitam de medico, mas os doentes. (Mt 9.12). Todos já ouvimos falar de ministros que confessam que amam as almas, mas não suportam as pessoas.
As pessoas de nossas congregações passarão pelo vale da sombra da morte; pois a morte nem sempre é física: a esperança morre; a fé morre; a fidelidade matrimonial morre; a confiança e as confidências morrem. Em cada caso, o pastor tem de se colocar ao lado e acompanhar os feridos em todo o percurso desses vales. Trata-se de grande privilégio. É ocasião em que o ministério em muito pode frutificar. Os corações estão abertos e famintos por ajuda. O pastor pode levar esperança onde a tristeza abunda. Felizmente, atravessemos esses vales; não ficamos lá. A alegria vem pela manhã. O pastor está em posição privilegiada para observar a fidelidade do Senhor em confortar e libertar.
O pastor que há muito está na congregação possui rica herança de jornadas com os membros de congregação pelos vales da vida. tais experiências deram crédito e confiança em sua liderança. Quando, no fim de ano, um casal aperta a mão do pastor e diz: “Obrigado por ter ido com a gente pelos vales durante este ano”, faz com que a jornada tenha valido a pena. Ainda que ninguém mais na congregação possa saber em que consistiu essa jornada, aquele casal sabe que foi valorizado e amado por um pastor atencioso. Para o pastor, pode ter sido como deixar as 99 para salvar o cordeiro que estava com problemas.
Uma Vara e um Cajado
Para as ovelhas, a vara e o cajado são símbolos de ajuda. Por quê? De que forma esses instrumentos se relacionam com o papel do pastor contemporâneo? A vara era um pedaço de pau grosso e curto, freqüentemente com uma saliência na ponta. Era usada para vários fins. Antigos pastores de ovelhas raramente eram vistos sem uma vara na mão ou presa à cintura. Às vezes, era arremessada com extrema precisão para afugentar um predador. Outras vezes, era lançada na direção de um cordeiro teimoso, na tentativa de impedi-lo de se afastar do rebanho ou para não se aproximar de uma planta venenosa. Nessas aplicações, a vara era uma extensão de autoridade do pastor. Era como um prolongamento do seu braço estendido. A autoridade do pastor e sua habilidade em guiar o rebanho com a vara era fonte de conforto. O pastor deve usar a vara da autoridade com grande cuidado, mas nunca vacilar em defender a congregação ou hesitar em alertar os membros da aproximação do perigo.
A vara também era usada pelo pastor quando ele se punha à noite no portão do redil para contar cada ovelha e fazer-lhe rápido exame em busca de quaisquer ferimentos sofridos durante do dia. Esse é um costume chamado “passar debaixo da vara” (cf. Ez 20.37). Os rebanhos na Palestina tinham entre vinte a quinhentos animais. Alguns pastores na verdade reconheciam suficientemente as ovelhas a ponto de dar nome a elas. Não era incomum que, ao ser parada no portão, o pastor corresse a mão pelo corpo da ovelha, procurando sentir espinhos ou parasitas escondidos. Parece que essa teria sido a ocasião natural para ungir a ovelha e tratar convenientemente das feridas. A congregação de hoje é fortificada pelo pastor que se dedica em conhecer as necessidades daqueles que estão sob seus cuidados. Sua atenção pessoal é animadora. Diferentes métodos são usados para proporcionar atenção pessoal, dependendo do tamanho da congregação.
Embora se reconheça que as visitas sejam opção impraticável em uma congregação grande, um telefonema do pastor ainda é possível. Às vezes, uma nota pessoal pode ser uma lembrança inesperada de que você está ciente de uma tribulação pela qual um membro esteja passando.
O cajado do pastor tinha função e aparência muito diferentes da vara. Era muito mais comprido e tinha a extremidade superior arqueada. O pastor usava o cajado de diversas maneiras para dar segurança às ovelhas: sacudia o mato alto à frente do rebanho a fim de assustar alguma serpente; cutucava uma ovelha para fazê-la voltar ao caminho e livrá-la do perigo; puxava a ovelha tímida para mais perto de si. Alguns pastores podiam ser vistos andando por quilômetros somente encostando a ponta do cajado não lado de um cordeiro, dando segurança pelo contato. Durante a época em que as ovelhas davam cria, o cajado era usado para erguer os cordeirinhos sobre as próprias pernas e colocá-los ao lado da mãe. Isso evitava que o cheiro das mãos do pastor no recém-nascido, causasse uma possível rejeição pela mãe. Os integrantes de nossas congregações precisam da segurança que o “cajado do pastor de ovelhas” traz. Alguns precisam ser cutucados com suavidade, outros necessitam de constante afirmação e reafirmação. O tímido precisa ser atraído em direção ao pastor e ser lembrado do seu valor, e o recém-nascido na fé deve ser erguido e ajudado a ficar em pé sozinho.
O cajado era cuidadosamente trabalhado pelo pastor. Cada um trazia algum traço da personalidade do pastor, o que tornava cada cajado um instrumento único. Os pastores diferirão entre si no modo como exercem suas funções pastorais nas congregações que servem. O que dá certo para um pastor pode não ser aceitável para outro. Mas, comum a todos os pastores, está o entendimento de que pastorear envolve muito mais do que apenas pregar no domingo. As necessidades das pessoas sob os cuidados do pastor variam amplamente. Os recursos do pastor devem ser extensos. À medida que ele demonstra sua preocupação e competência, o rebanho se sente fortalecido. Os antigos pastores de ovelhas admitiam que não podiam confiar apenas em sua força e capacidade, mas que precisavam de uma vara e um cajado para cuidar das ovelhas. O pastor contemporâneo bem cedo descobre que toda a sua capacidade, instrução e dons naturais nunca serão adequados para realizar a obra que foi chamado a fazer. A Palavra e os dons do Espírito muitas vezes são uma vara e um cajado nas mãos do pastor ungido. Ele entende o poder da Palavra e do Espírito.
Protegendo o Protetor
O pastor que aceita o papel de pastorear o rebanho torna-se alvo do ataque do inimigo. “Fere o pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas” (Zc 13.7). Satanás conhece esse princípio e muitas vezes concentra seus ataques diretamente ao pastor. A família do pastor é igualmente alvo das investidas de Satanás. As desgraças morais ou éticas de um pastor causa mais do que um escândalo de relações públicas. Quando o pastor cai em pecado, o protetor do rebanho é retirado, deixando-o vulnerável aos ataques do inimigo. As congregações correm grande perigo durante os períodos de transição pastoral, por causa da ausência do protetor. Para que o rebanho seja protegido, o protetor tem de ser protegido.
O pastor tem de estar alerta aos perigos e tentações pessoais, não apenas para seu próprio benefício, nas também por causa do rebanho. É tolice o pastor acreditar que as ovelhas sob seus cuidados são vulneráveis, mas que ele não. Poucos são os ministérios que compreendem o valor de um pastor que seja forte e capaz de defender o rebanho de Deus. As tentativas do pastor em informar o ministério das ameaças pessoais a seu próprio bem-estar são freqüentemente mal-entendidas e confundidas com presunção. A necessidade de proteger o pastor pode tornar-se fonte de tensão entre as necessidades do rebanho e o bem-estar do pastor. Essa tensão deve ser diligentemente manejada, do contrário o pastor ou será consumido pela conservação de si mesmo e negligenciará o rebanho ou será consumido por proteger o rebanho e negligenciar suas próprias defesas.
Uma das responsabilidades do pastor de ovelhas é manter o rebanho unido. Em toda transição, as ovelhas correm perigo. É freqüente que a harmonia congregacional esteja em risco durante as transições pastorais. Quando a congregação está sem pastor, tende a se espalhar. A igreja com histórico de pastorados curtos raramente manifesta a força ou o crescimento de uma congregação saudável. Esse fato deveria fazer com que o pastor considerasse com muito cuidado as conseqüências da decisão de demitir-se ou mudar-se. Se o pedido de demissão é feito principalmente para salvar a pele do pastor, assemelha-se às ações dos mercenários, que não são bons pastores, porque fogem quando vêem chegar o lobo (Jo 10.12,13). As congregações devem considerar com minúcia as sérias implicações de uma mudança pastoral, antes de pedir a renúncia do pastor.
As transições pastorais quase sempre causam impacto negativo no rebanho, independente do seu tamanho. Certo pastor muito bem-sucedido em sua função, que completou 25 anos de ministério em uma igreja, disse: “Recebo freqüentes convites para pastorear outra igreja. Mas se eu deixar esta igreja, levaria tempo para conhecer as necessidades da nova congregação e o que lá é eficaz ou não. Aqui já sei o que dá certo. O pastor que me substituísse poderia não saber o que dá certo aqui. Haveria um período de ajustamento que poderia não ser bom nem para a congregação nem para o novo pastor. Julgo que é melhor ficar onde estou e continuar trabalhando com as pessoas cujas necessidades eu conheço”.
Terminando Bem
O Salmo 23 termina: “Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor por longos dias” (Sl 23.6). É assim que aqueles que estiveram sob os cuidados de um bom pastor terminam. Sobreviveram às tentações e provações da vida. o fraco foi fortalecido. O quebrado foi curado. O perdido foi achado. É um bom fim.
E o pastor? Ao final da jornada, como ele termina? Em sua obra sobre mentores, o doutor J. Robert Clinton observa que os líderes cristãos têm de acabar bem. O escritor adverte que as principais causas para um final pouco feliz são o abuso de poder, o mau uso do dinheiro, o orgulho, as tentações sexuais e as questões familiares. O doutor Clinton também relaciona várias características daqueles que terminam bem. Entre elas estão em ter mentores bons, manter uma postura de aprendizagem ao longo da vida e continuar crescendo espiritualmente.
Os pastores de ovelhas passam longos períodos de tempo longe da vista daqueles a quem prestam contas. Pode ser que fiquem fora com o rebanho durante semanas. Em tais ocasiões, ninguém está vendo se estão protegendo as ovelhas ou não. Semelhantemente, os pastores têm oportunidades extraordinárias para cometer abusos de autoridade. Isso é particularmente verdade a respeito do horário mantido por pastores de congregação menores. Poucos ou ninguém nota quanto tempo é gasto no estudo e oração. Quem é que vai saber que telefonemas são feitos e por quê? Quem é que vai ficar sabendo se o dinheiro para determinada obra, dado pessoalmente ao pastor, será de fato entregue para tal obra? Que outra profissão dá tanto poder a uma pessoa com a mínima obrigação de prestar contas? “Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Além disso, requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel” (1 Co 4.1,2).
Recentemente, um dos membros do meu ministério convidou-me para almoçar, em certo mês que eu estava atravessando por situações bem estressantes. Não fazia nenhuma idéia de quais seriam suas intenções, mas visto que ele presidia uma proeminente comissão ministerial, pensei que provavelmente tivesse alguma relação com os assuntos daquela comissão. Logo depois que nos sentamos à mesa e fizemos o pedido, ele me olhou diretamente nos olhos e perguntou: “Como estão as coisas?” Imediatamente me lancei a fazer um relatório sobre as finanças, sobre o andamento de vários projetos e sobre os assuntos relacionados ao pessoal. Ele me fez parar e disse: “Não estou perguntando como está seu trabalho. Gostaria de saber como vai você. Como estão as coisas entre você e o Senhor? Entre você e sua família? Você e sua esposa? Você e o banco? Como você está se sentindo fisicamente?” Fiquei aturdido. Ainda olhando para mim, continuou: “Eu me preocupo com você. Seu bem-estar faz parte de minhas responsabilidades. Este almoço não é para tratar de trabalho. É para você. Se sua saúde não vai bem, o ministério que você representa também não estará saudável”. Lutei para reter as lágrimas. Tinha andado sob muita pressão, mas nunca havia antecipado que tremenda carga me sairia dos ombros enquanto aquele irmão continuava a fazer perguntas inquiridoras sobre mim, minha família e meu andar com o Senhor.
A conversa nunca poderia ter-se realizado sem uma base de confiança e confidência. Aquele crente havia construído aquela base cuidadosamente ao longo dos anos. Minha plena certeza naquele momento era de que ele estava sendo usado pelo Espírito Santo para ministrar ao meu coração. Seu desejo era que eu terminasse bem. É útil você perguntar-se como seria o perfil do pastor da igreja que você serve, se você terminasse bem. Isso pode ajudar no fornecimento de uma nova orientação em seu papel como pastor de ovelhas.
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